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20.4.08

OS HERÓIS E O MEDO - 239º. fascículo

(continuação)

Tomou uma resolução. Morrer como um cão é que não! A situação, já de si perigosa, não tardaria a tornar-se incontrolável. Desceu o que restava das escadas da torre, chamou dois dos nativos e disse-lhes para virem atrás dele, carregando cada qual um cunhete de granadas de mão. Afrontaram o fogo a peito descoberto. Friamente, o Manel avançou, destemido e seguido pelos dois nativos, para o inimigo. Arrancava raivosamente, com os dentes, o grampo de segurança das granadas, segurando a cavilha, punha-se de pé e deixava-se tombar para a frente, arremessando as granadas na direcção dos adversários com o impulso da queda. Berros agora mais frequentes indicavam o sucesso da acção suicida. Pressentiu-se a desorientação do inimigo pela desorganização do seu fogo. Empolgados pela acção do seu comandante, os soldados sairam dos abrigos e carregaram. Disparando incessantemente. O fogo do lado de lá foi abrandando, cada vez mais longe da cerca, agora. Alguns minutos depois, a parecerem horas, o silêncio voltou, quebrado por alguns gemidos aqui e além. A noite continuava palidamente negra, alumiada apenas pela escassa luz de milhões de estrelas, silenciosas espectadoras da tormentosa hora passada. Acalmada a trovoada, as rãs voltaram a coaxar. O pato voara certamente para paragens mais tranquilas. O macaco, esse, ou ficara estuporado ou não chegara a acordar.

(continua)
Magalhães Pinto

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