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Ficamos a saber a história. Já iam pelas quatro da manhã. Os “gajos do Clio” tinham assaltado um automóvel na Segunda-feira. Tinham sido apanhados a assaltar outro automóvel, dentro de uma residência, na Terça-feira. Tinham sido presentes ao Tribunal na Quarta-feira. Como a pena para o crime cometido é inferior a cinco anos, não pode haver prisão preventiva, nos termos da grandiosa, generosa, asquerosa lei aprovada por deputados que, como andam a maior parte do tempo em carros que não são seus, não temem os assaltos.
E, na Sexta-feira, voltaram a atacar. Outro carro. Por acaso, não era um Clio.
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O gesto do José João tem um nome feio nos meandros financeiros. Insider trading. É crime financeiro punido com coimas. Quem faz – ou aprova, o que é o mesmo - as leis para punir “crimes” desta natureza acaba por ser quem faz todas as outras. Algum invejoso fez queixa do José João. Há oito anos. Oito. Isso, está a ler bem: oito! E o julgamento chegou agora à sentença. Para servir de exemplo, os habilidosos ganhadores de para aí duzentos e cinquenta mil contos (à custa de outros) foram condenado a pagar, no total, coimas inferiores a treze mil contos. Não sei se o José João e o compincha se deslocam em Clios. Mas mereciam.
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Sinto algum nojo em exprimir qualquer comentário sobre os dois casos, muito mais parecidos um com o outro do que à primeira vista parecem. A vontade que dá é ir a uma esquadra da polícia, apresentar queixa contra os fazedores das leis no meu país. Mas a verdade é que tenho receio. Estão a multiplicar-se de tal modo os “assaltos” a esquadras da polícia que eu temo ser apanhado em alguma dessas incursões. Começo a olhar para as esquadras da polícia como sendo dos lugares mais inseguros do mundo. E não apenas no Iraque. Se, nas penedias da nossa Beira Interior, conseguirmos encontrar algo que pareça a Babilónia, nem que seja Sortelha, até poderemos em breve passar a ser chamados o Iraque do Ocidente. Tolhido, assim, pelo medo, creio que só me resta uma solução. Saber quem é o agente dos Clio e apressar-me a comprar um.
Excertos da crónica OS GAJOS DO CLIO - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 30/4/2008
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