A obra-prima de RAVEL, num crescendo admirável com sabor árabe: BOLERO.
. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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31.5.08
PENSAMENTO DO DIA
FRASE DO DIA
FIGURA DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 278º. fascículo
(continuação)
Maria Có já não era bajuda. Os seus seios, várias vezes entrevistos por Mário no rápido traçar da túnica que os cobria, apresentavam indeléveis sinais de amamentação, no descaimento e nas estrias dum negro mais brilhante, provocadas pela dilatação do leite. Ainda não tinham chegado, porém, ao exagero das mais velhas, cujos sacos de café, como os soldados diziam, chegavam por vezes até à cintura. A carapinha era uma renda de bilros de infinita paciência, nas suas tranças miúdas coladas ao crâneo, ao jeito próprio das africanas. Tinha um aspecto asseado e dela exalava um odor fresco, a sabão. Meã de estatura, com uns olhos negros muito dóceis, a maior parte do tempo colados no chão. A dançar num sorriso silencioso e envergonhado. Os pais tinham-na trocado, ainda criança, por dez balaios de arroz e três frangos magricelas, ficando ela à espera da idade apropriada para satisfazer o seu senhor, um vendedor de fruta que, quando a guerra chegara, optara por se alistar na milícia. Apenas tivera tempo de lhe fazer um filho. Logo a seguir, morrera, numa operação militar na área de Bambadinca. Desde aí, ninguém conhecera outro homem a Maria Có. Mamadú já falara com ela. Estava disponível para ser a mulher de Mário, desde que este pagasse a renda da casa em Mansoa. Havia uma disponível, pertencente ao libanês, cuja renda era de cem pesos por mês. Maria Có mudaria os seus trastes para lá logo Mário assim o quisesse. Havia só um problema a resolver. Mas ele, Mamadú encarregar-se-ia disso. Maria Có, na tabanca, dormia num catre onde mal cabia ela. Era precisa uma cama onde coubessem os dois. Mamadú encarregar-se-ia de a mandar fazer. Tinha pensado em tudo, o nativo espertalhão. Inclusivamente o horário das visitas. Se fosse de dia, Mário haveria de a prevenir, fosse para ela não ir para a bolanha, fosse para arrumar o filho, na circunstância indiscreto. Se fosse de noite ou para dormir com ela, não havia problema. O filho adormecia cedo e ninguém o acordava mais até ser de manhã.
(continua)
Magalhães Pinto
Maria Có já não era bajuda. Os seus seios, várias vezes entrevistos por Mário no rápido traçar da túnica que os cobria, apresentavam indeléveis sinais de amamentação, no descaimento e nas estrias dum negro mais brilhante, provocadas pela dilatação do leite. Ainda não tinham chegado, porém, ao exagero das mais velhas, cujos sacos de café, como os soldados diziam, chegavam por vezes até à cintura. A carapinha era uma renda de bilros de infinita paciência, nas suas tranças miúdas coladas ao crâneo, ao jeito próprio das africanas. Tinha um aspecto asseado e dela exalava um odor fresco, a sabão. Meã de estatura, com uns olhos negros muito dóceis, a maior parte do tempo colados no chão. A dançar num sorriso silencioso e envergonhado. Os pais tinham-na trocado, ainda criança, por dez balaios de arroz e três frangos magricelas, ficando ela à espera da idade apropriada para satisfazer o seu senhor, um vendedor de fruta que, quando a guerra chegara, optara por se alistar na milícia. Apenas tivera tempo de lhe fazer um filho. Logo a seguir, morrera, numa operação militar na área de Bambadinca. Desde aí, ninguém conhecera outro homem a Maria Có. Mamadú já falara com ela. Estava disponível para ser a mulher de Mário, desde que este pagasse a renda da casa em Mansoa. Havia uma disponível, pertencente ao libanês, cuja renda era de cem pesos por mês. Maria Có mudaria os seus trastes para lá logo Mário assim o quisesse. Havia só um problema a resolver. Mas ele, Mamadú encarregar-se-ia disso. Maria Có, na tabanca, dormia num catre onde mal cabia ela. Era precisa uma cama onde coubessem os dois. Mamadú encarregar-se-ia de a mandar fazer. Tinha pensado em tudo, o nativo espertalhão. Inclusivamente o horário das visitas. Se fosse de dia, Mário haveria de a prevenir, fosse para ela não ir para a bolanha, fosse para arrumar o filho, na circunstância indiscreto. Se fosse de noite ou para dormir com ela, não havia problema. O filho adormecia cedo e ninguém o acordava mais até ser de manhã.
(continua)
Magalhães Pinto
30.5.08
PENSAMENTO DO DIA
Numa sessão sobre os preços dos combustíveis, com linguagem a raiar a peixeirada, o Primeiro-Ministro roçou o insulto, ao referir-se a Paulo Portas, dizendo:
"Antes era o Paulo Portas das feiras; agora é o Paulo Portas das bombas."
Nem sei como ninguém lhe chamou Pinóquio, na dita sessão.
(Imagem obtida de pinpao.blogs.sapo.pt)
"Antes era o Paulo Portas das feiras; agora é o Paulo Portas das bombas."
Nem sei como ninguém lhe chamou Pinóquio, na dita sessão.
(Imagem obtida de pinpao.blogs.sapo.pt)
FRASE DO DIA
FIGURAS DO DIA
29.5.08
PERGUNTAS SEM RESPOSTA
ILUSÃO
EFEMÉRIDE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 277º. fascículo
(continuação)
Onde estão os vossos estropiados? Será que esta guerra só faz estropiados do nosso lado? Ou será que até os vossos estropiados continuam a combater, fantasmas invisíveis contra os quais as nossas balas se tornam impotentes? Não sois só vós a colocar minas nas picadas, nós também o fazemos. Para que a guerra seja menos injusta, também deve haver estropiados do vosso lado. Ou isto não faz sentido. Ou será que faz? Se calhar, uma guerra assim tem que ser injusta a todos os níveis, em todos os aspectos. Uma injustiça iniciada no dealbar dos séculos e que, provavelmente, nunca mais acabará. Uma injustiça eterna. Só os injustos sobrevivem. Podeis estar tranquilos. Eu também sobreviverei.
Mamadú não desistia de arranjar mulher para Mário. Já o convidara para ir visitar uma nativa da tabanca de Mansoa, conhecida pelos favores proporcionados aos militares a troco de meia dúzia de pesos. Mas Mário recusara. Mamadú não conseguia perceber como podia um jovem viver sem satisfazer os impulsos sexuais. Intuindo, mais do que percebendo, que Mário não gostaria de usar mulher partilhada, esforçou-se por arranjar-lhe uma exclusiva. E apareceu-lhe, naquele dia, com uma nativa ao lado. Maria Có, dissera ele à laia de apresentação
(continua)
Magalhães Pinto
Onde estão os vossos estropiados? Será que esta guerra só faz estropiados do nosso lado? Ou será que até os vossos estropiados continuam a combater, fantasmas invisíveis contra os quais as nossas balas se tornam impotentes? Não sois só vós a colocar minas nas picadas, nós também o fazemos. Para que a guerra seja menos injusta, também deve haver estropiados do vosso lado. Ou isto não faz sentido. Ou será que faz? Se calhar, uma guerra assim tem que ser injusta a todos os níveis, em todos os aspectos. Uma injustiça iniciada no dealbar dos séculos e que, provavelmente, nunca mais acabará. Uma injustiça eterna. Só os injustos sobrevivem. Podeis estar tranquilos. Eu também sobreviverei.
Mamadú não desistia de arranjar mulher para Mário. Já o convidara para ir visitar uma nativa da tabanca de Mansoa, conhecida pelos favores proporcionados aos militares a troco de meia dúzia de pesos. Mas Mário recusara. Mamadú não conseguia perceber como podia um jovem viver sem satisfazer os impulsos sexuais. Intuindo, mais do que percebendo, que Mário não gostaria de usar mulher partilhada, esforçou-se por arranjar-lhe uma exclusiva. E apareceu-lhe, naquele dia, com uma nativa ao lado. Maria Có, dissera ele à laia de apresentação
(continua)
Magalhães Pinto
PENSAMENTO DO DIA
FRASE DO DIA
28.5.08
MEMÓRIA
...
Acho que uma de três coisas acontecerá, mais tarde ou mais cedo. Ou desaparece o Senhor Presidente. Ou desaparece o mercado de capitais que fez o Senhor Presidente, o que dá no mesmo, ou desaparecem os migalheiros, o que fará desaparecer o mercado de capitais o que fará desaparecer o Senhor Presidente, o que dará no mesmo. Se nenhuma destas coisas acontecer, é porque os migalheiros entenderam que, se cada um não tem força nenhuma, todos juntos talvez tenham. E, então, se juntem nalguma associação para exercer essa força. Especializada por ramos de actividade. Ou por empresa. Talvez aplicando-a para fazer desaparecer o Senhor Presidente. O que virá a dar no mesmo. Isto é, o Senhor Presidente está condenado. Se não à morte, pelo menos a dar explicações. E diga-se que seria bonito ver surgir aí no mercado a AIT, ou a AIB, ou a AIEDP, ou a AIBCP, ou a AIS, por exemplo. As assembleias gerais iam tornar-se divertidíssimas. De um lado, o Senhor Presidente. Do outro, os pequenos investidores. Um a dizer que lamentava, mas não comentava. Os outros a comentar, lamentando-se. Tendo o lamento por traço de união. Um a dizer que a culpa era da guerra. Os outros a fazerem a guerra por causa da culpa. Tendo a culpa por traço de união. Um a dizer que queria mais dinheiro para crescer. Os outros a quererem que o seu dinheiro crescesse antes de tudo. Tendo o crescimento por traço de união. Um a dizer que o futuro ia ser brilhante. Outros a dizer que o passado era um negrume. Situação, esta última, em que não se vislumbra traço de união nenhum. Não há traço de união possível entre um passado lamentável e um futuro que é uma incógnita.
Verdade seja que os pequenitos já passaram por tanta coisa - isto das baixas catastróficas na Bolsa é periódico - que deveriam ter aprendido. E não aprenderam. Memória curta. Talvez por isso, o Senhor Presidente poderá continuar a fazer todas as tropelias que quiser sem medo. E poderá continuar a cuspir no rosto dos pequenos investidores de Bolsa, dizendo-lhes, directamente ou por interposta pessoa, quando lhe pedirem contas da sua presidência: "Lamento! Mas não comento!".
Excerto da crónica O SENHOR PRESIDENTE - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 2/3/2003
Acho que uma de três coisas acontecerá, mais tarde ou mais cedo. Ou desaparece o Senhor Presidente. Ou desaparece o mercado de capitais que fez o Senhor Presidente, o que dá no mesmo, ou desaparecem os migalheiros, o que fará desaparecer o mercado de capitais o que fará desaparecer o Senhor Presidente, o que dará no mesmo. Se nenhuma destas coisas acontecer, é porque os migalheiros entenderam que, se cada um não tem força nenhuma, todos juntos talvez tenham. E, então, se juntem nalguma associação para exercer essa força. Especializada por ramos de actividade. Ou por empresa. Talvez aplicando-a para fazer desaparecer o Senhor Presidente. O que virá a dar no mesmo. Isto é, o Senhor Presidente está condenado. Se não à morte, pelo menos a dar explicações. E diga-se que seria bonito ver surgir aí no mercado a AIT, ou a AIB, ou a AIEDP, ou a AIBCP, ou a AIS, por exemplo. As assembleias gerais iam tornar-se divertidíssimas. De um lado, o Senhor Presidente. Do outro, os pequenos investidores. Um a dizer que lamentava, mas não comentava. Os outros a comentar, lamentando-se. Tendo o lamento por traço de união. Um a dizer que a culpa era da guerra. Os outros a fazerem a guerra por causa da culpa. Tendo a culpa por traço de união. Um a dizer que queria mais dinheiro para crescer. Os outros a quererem que o seu dinheiro crescesse antes de tudo. Tendo o crescimento por traço de união. Um a dizer que o futuro ia ser brilhante. Outros a dizer que o passado era um negrume. Situação, esta última, em que não se vislumbra traço de união nenhum. Não há traço de união possível entre um passado lamentável e um futuro que é uma incógnita.
Verdade seja que os pequenitos já passaram por tanta coisa - isto das baixas catastróficas na Bolsa é periódico - que deveriam ter aprendido. E não aprenderam. Memória curta. Talvez por isso, o Senhor Presidente poderá continuar a fazer todas as tropelias que quiser sem medo. E poderá continuar a cuspir no rosto dos pequenos investidores de Bolsa, dizendo-lhes, directamente ou por interposta pessoa, quando lhe pedirem contas da sua presidência: "Lamento! Mas não comento!".
Excerto da crónica O SENHOR PRESIDENTE - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 2/3/2003
EFEMÉRIDE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 276º. fascículo
(continuação)
A morte natural é motivo de alegria e celebração para os naturais da Guiné. Por três dias e três noites, a festa não tem parança. Juntam-se os familiares, - na tabanca são todos - e abandonam-se a uma orgia à qual chamam, paradoxalmente, de choro. Enterram o morto com todos os seus pertences íntimos, prevenindo, sem que disso tenham consciência, o perigo de contágio de doenças. Junto ao túmulo, quase imperceptível por falta de outro indício a não ser a terra recentemente revolvida, hábeis tamborileiros percutem, sem parança, a pele retesada de primitivos tambores, produzindo um tam-tam ora frenético, ora monótono, excitante dos sentidos. As danças de roda, acompanhadas de cantos indecifráveis, exprimem uma sensualidade provavelmente nascida na vegetação luxuriante dos trópicos e, por artes mágicas, transmitidas a corpos que parecem de borracha nos seus requebros impossíveis. Os homens, corpos de ébano musculados e possantes, fralda de pano riscado traçado no baixo ventre, colares e cintos de conchas a servirem de atavio, ora executam saltos mirabolantes, funambulescos, em que parecem mal tocar no chão, ora perseguem as mulheres. Estas, capulana a servir de saia, revoluteiam as ancas e saracoteiam os seios nus, numa dança lasciva, erótica, quase obscena. Exaustos, homens e mulheres, param, de quando em vez, para descansar. E entregam-se a outros sentidos. Aguardente de cajú à discrição, acompanhando a carne das vacas abatidas que jazem, numa poça de sangue já coagulado, no largo da tabanca. Energias refeitas, espírito mais toldado à media que o choro se alonga, logo retornam às danças, entremeadas por cópulas pouco escondidas, como se o grupo sentisse recrudescer, na celebração da morte, o instinto da conservação da espécie. Arrumados a um canto, os velhos, energias perdidas no labutar dos tempos, pouco mais fazem do que comer.
(continua)
Magalhães Pinto
A morte natural é motivo de alegria e celebração para os naturais da Guiné. Por três dias e três noites, a festa não tem parança. Juntam-se os familiares, - na tabanca são todos - e abandonam-se a uma orgia à qual chamam, paradoxalmente, de choro. Enterram o morto com todos os seus pertences íntimos, prevenindo, sem que disso tenham consciência, o perigo de contágio de doenças. Junto ao túmulo, quase imperceptível por falta de outro indício a não ser a terra recentemente revolvida, hábeis tamborileiros percutem, sem parança, a pele retesada de primitivos tambores, produzindo um tam-tam ora frenético, ora monótono, excitante dos sentidos. As danças de roda, acompanhadas de cantos indecifráveis, exprimem uma sensualidade provavelmente nascida na vegetação luxuriante dos trópicos e, por artes mágicas, transmitidas a corpos que parecem de borracha nos seus requebros impossíveis. Os homens, corpos de ébano musculados e possantes, fralda de pano riscado traçado no baixo ventre, colares e cintos de conchas a servirem de atavio, ora executam saltos mirabolantes, funambulescos, em que parecem mal tocar no chão, ora perseguem as mulheres. Estas, capulana a servir de saia, revoluteiam as ancas e saracoteiam os seios nus, numa dança lasciva, erótica, quase obscena. Exaustos, homens e mulheres, param, de quando em vez, para descansar. E entregam-se a outros sentidos. Aguardente de cajú à discrição, acompanhando a carne das vacas abatidas que jazem, numa poça de sangue já coagulado, no largo da tabanca. Energias refeitas, espírito mais toldado à media que o choro se alonga, logo retornam às danças, entremeadas por cópulas pouco escondidas, como se o grupo sentisse recrudescer, na celebração da morte, o instinto da conservação da espécie. Arrumados a um canto, os velhos, energias perdidas no labutar dos tempos, pouco mais fazem do que comer.
(continua)
Magalhães Pinto
ILUSÃO
PERGUNTAS SEM RESPOSTA
PENSAMENTO DO DIA
FRASE DO DIA
"A pobreza e a riqueza (por vezes ostensiva e injustificada) são o espelho de uma sociedade a caminho de graves convulsões."
Mário Soares - PÚBLICO - 28/5/2008
***
As convulsões já as temos. Falta saber se ainda é tosse convulsa ou se já é meningite...
(Já agora, ficava-lhe bem devolver ao Tesouro Público, o mais de um milhão de euros dos nossos impostos que a sua Fundação recebeu, de mão beijada, dos Governos socialistas.)
Mário Soares - PÚBLICO - 28/5/2008
***
As convulsões já as temos. Falta saber se ainda é tosse convulsa ou se já é meningite...
(Já agora, ficava-lhe bem devolver ao Tesouro Público, o mais de um milhão de euros dos nossos impostos que a sua Fundação recebeu, de mão beijada, dos Governos socialistas.)
FIGURA DO DIA
Nicolas Sarkozy. Presidente da República Francesa. Insatisfeito com as consequências da subida do petróleo e o aumento de preço dos combustíveis. Colocando propostas com imaginação aos seus parceiros da União Europeia. Assumindo o compromisso de afectar o excesso de receitas fiscais derivadas daquele aumento dos preços à compensação dos mais prejudicados com o facto. Enquanto isso, o Primeiro-Ministro português José Sócrates, assumia um ar compungido na televisão e afirmava já ter feito tudo o que podia e que não era sua a culpa.
27.5.08
CRÓNICA DA SEMANA (II)
...
Eu, Português, tenho tanto direito ao petróleo que existe na Venezuela ou nos Emiratos como os cidadãos daqueles países. Todos os bens devem ser equitativamente repartidos entre todos os cidadãos do mundo. Muito mais os naturais do que os produzidos. A condição necessária para tal é que eu, Português, não tenha privilégios relativamente ao venezuelano ou islamita que não resultem do meu próprio trabalho. Ora, basta ver que se passa nos países produtores de petróleo natural para ver que, ALÉM de eles gozarem de um privilégio inadmissível que eu não tenho – a disponibilidade do petróleo – ainda gozam hoje de outros privilégios tamanhos, derivados do preço a que me têm vendido algo a que eu também tenho direito.
...
No meio disto tudo, registe-se a atitude inteligente, honesta e corajosa do Presidente da França, a provocar, pelo menos e no seio da parceria europeia, a discussão dos efeitos fiscais num mercado que se distorce diariamente ainda mais. Enquanto o nosso quase envelhecido Primeiro-Ministro, José Sócrates, assumia um ar compungido para nos dizer “Eu fiz tudo o que pude!”, Nicolas Sarkozy recusava que o seu povo continuasse a ser esmagado pela especulação mundial e ia à luta. É assim. Quem os quer bons, arranja-os. Nós, por cá, começamos a ser todos do tempo do arroz de quinze.
Excertos da crónica ARROZ DE QUINZE - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 28/5/2008
Eu, Português, tenho tanto direito ao petróleo que existe na Venezuela ou nos Emiratos como os cidadãos daqueles países. Todos os bens devem ser equitativamente repartidos entre todos os cidadãos do mundo. Muito mais os naturais do que os produzidos. A condição necessária para tal é que eu, Português, não tenha privilégios relativamente ao venezuelano ou islamita que não resultem do meu próprio trabalho. Ora, basta ver que se passa nos países produtores de petróleo natural para ver que, ALÉM de eles gozarem de um privilégio inadmissível que eu não tenho – a disponibilidade do petróleo – ainda gozam hoje de outros privilégios tamanhos, derivados do preço a que me têm vendido algo a que eu também tenho direito.
...
No meio disto tudo, registe-se a atitude inteligente, honesta e corajosa do Presidente da França, a provocar, pelo menos e no seio da parceria europeia, a discussão dos efeitos fiscais num mercado que se distorce diariamente ainda mais. Enquanto o nosso quase envelhecido Primeiro-Ministro, José Sócrates, assumia um ar compungido para nos dizer “Eu fiz tudo o que pude!”, Nicolas Sarkozy recusava que o seu povo continuasse a ser esmagado pela especulação mundial e ia à luta. É assim. Quem os quer bons, arranja-os. Nós, por cá, começamos a ser todos do tempo do arroz de quinze.
Excertos da crónica ARROZ DE QUINZE - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 28/5/2008
EFEMÉRIDE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 285º. fascículo
(continuação)
XXXIV
Mamadú não perdia nenhuma oportunidade para manifestar a sua gratidão a Mário. Chegara mesmo a desencantar um leitão para ele, “sem cobrar patacão” como ele mesmo dissera, e que o cabo Ramos, do rancho, assara a preceito para deliciar Mário e mais meia dúzia de amigos. E já se oferecera, por diversas vezes, como voluntário para operações nas quais Mário participava. Tornando-se a sua sombra. Murmurando conselhos e ensinando o metropolitano a conhecer os segredos do mato e os sinais de presença humana recente. Foi numa dessas operações que Mário ficou a conhecer o esquisito modo como os indígenas celebravam a morte. Numa tabanca a Noroeste de Mansoa, tinha morrido um tal Atcholo Sacó. De velhice, presume-se. Um caso raro naquele mundo em guerra.
(continua)
Magalhães Pinto
XXXIV
Mamadú não perdia nenhuma oportunidade para manifestar a sua gratidão a Mário. Chegara mesmo a desencantar um leitão para ele, “sem cobrar patacão” como ele mesmo dissera, e que o cabo Ramos, do rancho, assara a preceito para deliciar Mário e mais meia dúzia de amigos. E já se oferecera, por diversas vezes, como voluntário para operações nas quais Mário participava. Tornando-se a sua sombra. Murmurando conselhos e ensinando o metropolitano a conhecer os segredos do mato e os sinais de presença humana recente. Foi numa dessas operações que Mário ficou a conhecer o esquisito modo como os indígenas celebravam a morte. Numa tabanca a Noroeste de Mansoa, tinha morrido um tal Atcholo Sacó. De velhice, presume-se. Um caso raro naquele mundo em guerra.
(continua)
Magalhães Pinto
SORRISO DO DIA
PENSAMENTO DO DIA
FRASE DO DIA
PERGUNTAS SEM RESPOSTA
26.5.08
EFEMÉRIDE DO DIA
OS HERÓIS E O MEDO - 274º. fascículo
(continuação)
O silêncio caiu na sala. António Soveral levantou-se e aproximou-se da janela, observando o movimento na parada do aquartelamento. Soldados iam e vinham. Confiantes. Confiados em que a máquina funcionaria. E, por isso, sem temor. Estavam todos envolvidos naquilo. A paragem de uma peça da máquina poderia significar a destruição de todas as outras peças. Voltou-se lentamente. Olhou José António durante alguns momentos. Cofiou o lábio superior, onde tinham aparecido algumas gotas de suor. E mandou-o retirar-se. Chamou o oficial de operações e disse-lhe que podia mandar regressar a delegação de Mansabá na próxima coluna. As punições do acontecido na véspera só sairiam depois de eles terem regressado a Mansabá.
Três dias depois, saía na ordem de serviço do batalhão a transferência de José António para Bissorã. Encerrando o incidente. Bissorã tinha fama de ser mais perigosa do que Mansabá. Por aí se ficava o castigo.
(continua)
Magalhães Pinto
O silêncio caiu na sala. António Soveral levantou-se e aproximou-se da janela, observando o movimento na parada do aquartelamento. Soldados iam e vinham. Confiantes. Confiados em que a máquina funcionaria. E, por isso, sem temor. Estavam todos envolvidos naquilo. A paragem de uma peça da máquina poderia significar a destruição de todas as outras peças. Voltou-se lentamente. Olhou José António durante alguns momentos. Cofiou o lábio superior, onde tinham aparecido algumas gotas de suor. E mandou-o retirar-se. Chamou o oficial de operações e disse-lhe que podia mandar regressar a delegação de Mansabá na próxima coluna. As punições do acontecido na véspera só sairiam depois de eles terem regressado a Mansabá.
Três dias depois, saía na ordem de serviço do batalhão a transferência de José António para Bissorã. Encerrando o incidente. Bissorã tinha fama de ser mais perigosa do que Mansabá. Por aí se ficava o castigo.
(continua)
Magalhães Pinto
PENSAMENTO DO DIA
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