(continuação)
XXXIII
Na solidão do seu quarto, na messe dos oficiais, António Soveral meditou na delicadeza da situação. Nas suas implicações militares e familares. Aqueles rapazes de Mansabá não eram inconscientes. Sabiam o que estavam a fazer. Tinham assumido conscientemente aquela espécie de rebeldia. Era imperioso castigá-los. Uma punição no teatro de guerra era bastante rara. A manutenção do moral dos homens, a compreensão das tensões a que estavam submetidos, a própria interdependência de todos, indiferente à existência de graduações, atenuava a gravidade das infracções e amolecia o RDM, o Regulamento de Disciplina Militar tão temido na Metrópole. Mas esta falta tinha uma natureza subversiva. Era um convite à fuga aos deveres militares. Além de que, o facto de terem sido quatro os militares envolvidos fazia temer a existência dum fenómeno de contestação já mais profundo. Alguma coisa se passava em Mansabá. E ele não tinha disso conhecimento. Um comandante menos preocupado do que ele com o estado de alma dos seus homens resolveria o caso com facilidade, provavelmente. Chamava a polícia política e entregava-lhe o caso. Mas não assim com ele. Acreditava que mesmo os contestatários do regime tinham uma razão para fazer as coisas. Mesmo as asneiras.
(continua)
Magalhães Pinto
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