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Acho que uma de três coisas acontecerá, mais tarde ou mais cedo. Ou desaparece o Senhor Presidente. Ou desaparece o mercado de capitais que fez o Senhor Presidente, o que dá no mesmo, ou desaparecem os migalheiros, o que fará desaparecer o mercado de capitais o que fará desaparecer o Senhor Presidente, o que dará no mesmo. Se nenhuma destas coisas acontecer, é porque os migalheiros entenderam que, se cada um não tem força nenhuma, todos juntos talvez tenham. E, então, se juntem nalguma associação para exercer essa força. Especializada por ramos de actividade. Ou por empresa. Talvez aplicando-a para fazer desaparecer o Senhor Presidente. O que virá a dar no mesmo. Isto é, o Senhor Presidente está condenado. Se não à morte, pelo menos a dar explicações. E diga-se que seria bonito ver surgir aí no mercado a AIT, ou a AIB, ou a AIEDP, ou a AIBCP, ou a AIS, por exemplo. As assembleias gerais iam tornar-se divertidíssimas. De um lado, o Senhor Presidente. Do outro, os pequenos investidores. Um a dizer que lamentava, mas não comentava. Os outros a comentar, lamentando-se. Tendo o lamento por traço de união. Um a dizer que a culpa era da guerra. Os outros a fazerem a guerra por causa da culpa. Tendo a culpa por traço de união. Um a dizer que queria mais dinheiro para crescer. Os outros a quererem que o seu dinheiro crescesse antes de tudo. Tendo o crescimento por traço de união. Um a dizer que o futuro ia ser brilhante. Outros a dizer que o passado era um negrume. Situação, esta última, em que não se vislumbra traço de união nenhum. Não há traço de união possível entre um passado lamentável e um futuro que é uma incógnita.
Verdade seja que os pequenitos já passaram por tanta coisa - isto das baixas catastróficas na Bolsa é periódico - que deveriam ter aprendido. E não aprenderam. Memória curta. Talvez por isso, o Senhor Presidente poderá continuar a fazer todas as tropelias que quiser sem medo. E poderá continuar a cuspir no rosto dos pequenos investidores de Bolsa, dizendo-lhes, directamente ou por interposta pessoa, quando lhe pedirem contas da sua presidência: "Lamento! Mas não comento!".
Excerto da crónica O SENHOR PRESIDENTE - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 2/3/2003
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