(continua)
O incidente tinha ainda uma outra vertente. Nele estava envolvido aquele rapaz a quem a filha estava emocionalmente ligada. Dificilmente Rafaela entenderia qualquer punição que lhe aplicasse. Levá-la-ia à conta de perseguição. Uma perseguição não pretendida por ele. Que não faria. Mas como explicar-lhe o seu dever de actuar? Mesmo pretendendo ser tolerante, o comandante responsável pela vida de quinhentos homens não podia tolerar a subversão, a atingir no ponto mais nevrálgico a unidade necessária. Como fazê-la entender não poder a vida de quinhentos estar dependente das ideias em contrário de alguns? A sobrevivência de todos e cada um dependia de cada um e todos responderem, no momento preciso, às suas obrigações. Sem hesitações. Sem pedidos de licença às suas consciências. Sobrava ainda uma outra questão. Se, porventura, isto viesse a ser do conhecimento da polícia política – e, dado o carácter público daquela manifestação, seguramente seria – quantos viriam a ser envolvidos na suspeição de subversão? Era o próprio Batalhão ou, pelo menos, toda a Companhia alojada em Mansabá, a estarem em risco.
(continua)
Magalhães Pinto
Sem comentários:
Enviar um comentário