Ganhámos a nossa independência. Sobrevivemos às guerras com os mouros. Ultrapassámos Aljubarrota diante dos castelhanos. Não nos consumimos na epopeia das Descobertas. Estivemos a ponto de desaparecer no interregno filipino. Mau grado o desastre da Ponte das Barcas, no Porto, conseguimos ultrapassar a ameaça napoleónica. A implantação da República não nos destruiu. Na I Guerra ficamo-nos pelas perdas de La Lys. Conseguimos imunidade face à pneumónica. Graças à habilidade de um patife – dizem – qualquer que andou por aí, escapamos à II Guerra. O “25 de Abril” esforçou-se por acabar conosco, mas continuámos. E nem mesmo José Sócrates conseguiu – ainda _ exterminar-nos. É uma História de sobrevivência a nossa. Mas há, em tudo isto, algo que me causa engulhos. Não consigo entender. É que conseguimos tudo isto sem ter uma ASAE que velasse por nós. É obra! Agora, com ASAE, é fácil. Nem precisamos de nos preocupar. Mas tudo o que ficou para trás sem ela é de arregalar os olhos.
Eu acredito que a ASAE não é estúpida. Como acredito que aquela coisa de fixar as penalidades a provocar durante o ano se trata de estudo previsional e não de uma ordem. Tão pouco acredito que a ASAE seja um submarino de Bruxelas a tentar dar cabo da nossa economia, para fazer de nós criados da Europa. Aquilo que pensamos ser maldade e estupidez não é senão uma capacidade organizativa de excelência. E penso que todas as autoridades deviam ser como a ASAE. Peão a atravessar fora das passadeiras, multa. Cidadão a lançar lixo para a rua, porta de casa fechada durante uma noite. Cocó de cão abandonado na via pública, seviço cívico durante uma semana. Automobilista a provocar acidente na auto-estrada e a paralisar milhares de concidadãos durante uma hora, sem carta uma vida inteira. Por mais do que uma hora, isso e ainda prisão perpétua. Estacionamento em local proibido, envio do veículo para a sucata. Petrogal a lançar carbonetos na atmosfera, exílio para Cabo Verde. Comer farturas na romaria, jejum durante duas semanas. E por aí adiante. Iam ver como este país ia ao sítio.
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Excerto da crónica ASAE - Magalhães Pinto - VIDA ECONÓMICA - 21/5/2008
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