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25.5.08

OS HERÓIS E O MEDO - 273º. fascículo

(continuação)

Como se lesse os seus pensamentos, José António continuava. Não podemos agir de tal modo que os nossos vindouros venham a sentir vergonha pelo feito hoje em África, meu Comandante. Aprisionando. Violentando, Assassinando. Os nossos vindouros têm que sentir tanta vaidade do que agora fazemos como nós sentimos pelos feitos dos nossos antepassados. Claro que tinha sido glorioso, numa Europa velha e relha, ter tido o saber, a força e a coragem necessária para afrontar o desconhecido. Um saber, uma força e uma coragem pertencente a todo o Povo e não apenas aos mandantes. Tanto mais valioso quanto éramos apenas meia dúzia. Tinha sido glorioso termos defendido os territórios descobertos e conquistados da cobiça de espanhóis, ingleses e holandeses. Mas o Mundo tinha mudado entretanto. Os territórios conquistados eram pasto da cobiça económica de meia dúzia de portugueses. Que diferença fazia se outros os cobiçavam também? Importante era deixar as populações africanas desenhar o seu próprio destino. Ninguém tinha o direito de lhes impôr um destino diferente do por eles desejado. Esse destino era, neste momento, pretendido só por alguns. Mas Portugal era o último dos países a poder apontar o dedo a esse fenómeno. Também Portugal era empurrado para um destino também só desenhado por alguns. Com uma diferença. O objectivo dos africanos era nobre. E o de Portugal não o era. É provável que, se os abandonarmos, talvez se engalfinhem uns nos outros. Mas que é a Europa de há mais de um milénio para cá? Ainda não há muito assistimos, na Europa, a uma selvajeria dificilmente repetível aqui. E, se se repetir, que mal tem isso? A História é uma imensa mancha de sangue intercalada por alguns momentos de brilho da Humanidade. Os homens são semi-deuses e, por isso, são também semi-demónios.

(continua)
Magalhães Pinto

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