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2.8.09

MUITO TARDE


Só faltava mesmo a questão das listas para arrumar com o que resta do Partido Socialista enquanto organização montada para governar. O líder, José Sócrates, vai sorrindo tanto quanto pode, na tentativa de mostrar um optimismo que, na verdade, não pode ter. Há desnorte entre os ministros no Governo e há desnorte entre os militantes mais destacados. Já não falo do efeito Manuel Alegre, a zurzir no Partido e, muito particularmente, em José Sócrates, sempre que se lhe depara uma oportunidade. Se há um político no país que está a servir uma vingança fria mas extremamente sádica, ele é Manuel Alegre. José Sócrates está a pagar o facto de ter escolhido – mal, como depois se viu – Mário Soares para candidato da esquerda à Presidência da República. E vai mesmo pagar esse erro com juros. Mas Alegre é apenas um deles. Tivemos um ministro a tourear o Parlamento. Tivemos uma ministra a acusar os jornais pelo fraco rendimento dos alunos a matemática, isto depois de ter armado uma guerra com os professores que durou todo o ano. Temos um ministro a ser investigado por um negócio que, em nome do Estado, fez com uma ex-destacada figura do Partido Socialista. E temos o resto dos Ministros – se excluirmos o das Finanças – pouco mais do que apagados.

José Sócrates acumulou muitos erros. Procurou fazer algumas coisas bem, mas não soube escolher os caminhos. Em lugar de assumir modestamente a maioria que os Portugueses lhe concederam, enfrentou tudo quanto era opinião divergente com uma arrogância detestável. Cometeu, afinal, o mesmo erro de muitos políticos que, um certo dia, caem nas boas graças do Povo. Entendeu que a simpatia deste era para durar sempre, fizesse ele o que fizesse. Hoje, já viu que não é assim. O Povo que dá, também tira. Sobretudo aos que se mostram indignos da dádiva recebida.

Há quem diga e peça e grite que, quer o Partido Socialista, quer o seu líder, devem mudar de atitude, de políticas, de falas, de gente. Acho que já é muito tarde. Aqui, penso que Sócrates está a agir bem. Qualquer modificação na sua atitude seria sempre vista pelo Povo como a atitude de Judas. Se ainda resta alguma coisa ao Primeiro-Ministro é a coerência na atitude e nas políticas. Claro que isto vai acender ou, nos casos em que já acendeu, espevitar, os rancores evidentes que se notam hoje dentro do PS. Mas não há alternativa. José Sócrates fechou todas as portas atrás de si, destruiu todas as pontes que estavam para trás. Agora, ele e as suas tropas não têm outro remédio senão marchar em frente. Sabendo todos que, na sua frente, estará, provavelmente, o abismo. O que é um sarilho quando as tropas estão desunidas. Mas é já muito tarde para voltar para trás.

Crónica de Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 12/7/2009

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