(continuação)
Uma a uma, atarantadas lesmas sem eira nem beira, as viaturas de trás foram logrando escapulir-se da armadilha. Logo os ocupantes de cada uma saltavam para o chão, procurando abrigo no abraço amigo da terra, prescrutando o mato com o intuito de descobrir o inimigo. Mário foi um dos primeiros. Ia numa das últimas viaturas. Agachou-se atrás de um ninho de baga-baga, já meio destruído.
Olha para eles. Já não são gente. São apenas o prolongamento duma máquina de matar. O instinto de sobrevivência está mais vivo do que nunca. Maldito ra-ta-ta, que nunca mais acaba. Mata, irmão. Mata tudo o que vires mexer. Põe fim a este maldito ra-ta-ta. Parece um exército de máquinas de costura. Ra-ta-ta.. .Ra-ta-ta... Só é trágico se um dos pontos da máquina te cose a ti. Ra-ta-ta... Ra-ta-ta... Calem-se! Ainda se vai magoar alguém. Até parece que estou na carreira de tiro. Isto também é uma carreira de tiro. Mas não vejo o alvo. Se o vir atiro. Calem-se, por amor de Deus. Deus não ouve nada, com este barulho todo. Ra-ta-ta... Ra-ta-ta... Sou maluco. A falar em amor no meio deste ódio que só se desvanece com a aniquilação. Ra-ta-ta... Ra-ta-ta… E aqueles lá em baixo. Saiam daí, seus parvos. É preciso ser muito parvo para ficar aí. Daqui a nada, fazem-vos coadores... Ra-ta-ta... Ra-ta-ta...
(continua)
Magalhães Pinto
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