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19.1.08

OS HERÓIS E O MEDO - 151º. fascículo

(continuação)

Desembocaram no mercado de Bissau. Este era a versão local da babel mesopotâmica. No ar pairava o ruído das conversas e dos gritos dos vendedores que, amontoados, tentavam colocar a sua mercadoria. Numa mistura de dialectos que os rapazes dificilmente entendiam. Uma ou outra palavra portuguesa, surgida à mistura, não chegava para a compreensão. De certeza por ali havia mercadores vindos do Senegal e da Guiné Conacri. Na zona central, eram expostos os legumes frescos, colhidos de madrugada. Alfaces. Nabiças. Alguns tomates. Alinhados. Mas em montinhos. A unidade de compra não é a unidade. Nem o quilo. São os montes. Os legumes estão bordados ainda pela cristalina condensação da humidade nocturna. Branco!... Branco!... Bô miste nabiça?... Ta fresca alface... Compra a mi, branco!... Duas um peso... Os montes de alface tinham duas alfaces cada um. A não ser que fossem muito pequenas e, então, tinham três. As mulheres engalfinhavam-se, agarrando nos braços dos rapazes, enquanto gritavam. Branco!... Branco!... Compra a mi, branco!... Álvaro e Manuel, assim requestados e tratados de branco, sentiam uma íntima superioridade, que extravasava a de simples e potenciais compradores ocasionais. Riem e vão-se afastando, tentanto libertar os braços ansiosamente agarrados pelas mulheres.

(continua)
Magalhães Pinto

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