(continuação)
Como... Como… Desgraçados da Ilha do Como! Quase dois meses a rações de combate. No primeiro dia, acha-se piada àquilo. Vitaminas cientificamente calculadas para aguentar a caminhada de vinte quilómetros. Ao segundo dia, já só se bebe o leite com chocolate e só se come o chouriço. O suficiente para enganar a fome. Ao terceiro dia, olha-se para elas com o estômago em revolta, a dizer não. Quantos estarão a comer rojões a esta hora, na Metrópole? Ou arroz de frango? E os de Paris, Londres, Argel, estarão eles a rações de combate, também? Farão eles alguma ideia do que passamos aqui? Saberão eles o que é estar cheio de fome e ter à frente uma refeição que revolta as entranhas? Pegar na faca de mato, espetá-la na lata de conservas e só ter vontade de atirar tudo, faca e lata, pelos ares, na esperança de que, no seu voo, ela se desfaça, numa explosão de azeite e atum a rebentar com aquilo tudo? Onde vi eu uma África cheia de gazelas, de javalis, de pacaças? No livro de geografia da quarta classe? Não me lembro. Mas devem ser espécies em extinção. Nem uma para amostra. Que bem saberia agora um bom bife de pacaça ou uma costeleta de javali.
(continua)
Magalhães Pinto
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