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O detentor de alguns milhares de acções de uma empresa de capital gigantesco nada pode fazer nem para controlar nem para evitar os actos dos gestores, nem para punir eventuais desvios dos bons costumes perpretados pelos gestores das empresas gigantes. E, no entanto, se fizéssemos as contas, os pequenos accionistas dessas empresas detêm, em conjunto, uma apreciável fracção do capital da empresa, maior do que a de qualquer outro accionista de referência. No tempo da ditadura, dizia-se que as sociedades anónimas eram, um rincão de democracia. O gigantismo atingido por tantas e o desenvolvimento do mercado de capitais fez desaparecer essa democracia. A democracia é uma palavra vã na maioria das empresas cotadas em Bolsa. E, tendo em conta que os fiscalizadores, como se viu no caso Enron/Andersen, dão cobertura aos gestores facilmente, se conclui que o pequeno investidor no capital das empresas está totalmente desprotegido. O que me faz pensar na necessidade de fornecer um serviço aos pequenos investidores. Aglutiná-los. Em conjunto, nas Assembleias Gerais das empresas cotadas, os pequenos accionistas poderão ter uma força inusitada. E, quem sabe, podem mesmo ter o poder de nomear um administrador, um conselheiro, um fiscal, para essas empresas. O detentor de algumas acções representativas do capital de uma empresa tem, exacta e proporcionalmente, os direitos do maior accionista dessa empresa. Ficar a olhar diariamente para as cotações, na expectativa de fazer um ganho especulativo, sem se preocupar com o que se passa na empresa onde investiu, é uma atitude estúpida. Não muito diferente de ir a um casino e jogar na roleta. Confiando na sorte. Se quem estiver a conduzir os destinos da empresa tiver escrúpulos, vai ganhar. Se, por azar, a empresa estiver confiada a gente de poucos escrúpulos, pode perder. Como vamos vendo pelo que se passa lá fora, cada vez mais de um jogo de azar.
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Excerto da crónica OS CONDES DAS FINANÇAS - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 4/8/2002
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