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17.4.08

OS HERÓIS E O MEDO - 237º. fascículo

(continuação)

A situação piorava. Ou eu estou enganado, ou os filhos da puta já estão no intervalo entre as duas fieiras de arame farpado que defendem o forte, murmurou o Manel. Na torre, duas metralhadoras estavam caladas. Usem isso, bastardos! Raio de gente! Era necessário construir uma barreira de chumbo entre os guerrilheiros e os abrigos ou não tardariam a ser apanhados à unha. Voltou à torre. Aqueles gajos estavam a precisar de um empurrão. Ainda ia nas escadas, quando ouviu o fragor do rebentamento de um roquete mesmo por cima de si. Rompeu os pedaços de tijolo que intentavam soterrá-lo. Metade da cobertura da torre tinha desaparecido, levando consigo a antena da rádio e uma das metralhadoras. Bonito! Se em Mansoa não se tivessem apercebido já da situação, enviando reforços, as coisas iam piorar. Porque não disparavam aqueles gajos lá em cima? No escuro, viam-se, rubros, os canos das metralhadoras. Duas delas encravadas pelo calor gerado. Usando as mãos nuas, o “Algarvio” tentava deseperadamente substituir o cano da sua, indiferente ao cheiro de carne assada emprestado ao ar em redor pela sua pele. Conseguiu. Arremessou o cano dilatado para longe e introduziu um novo na boca da culatra. O Manel agarrou-se à arma e vomitou projécteis em profusão, enquanto o “Algarvio” ajudava o Zé Grande a desencravar a sua. De vez em quando, um estertor de agonia na escuridão contava de um contendor a menos, sem bem se saber de que lado.

(continua)
Magalhães Pinto

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