(continuação)
Depois da missa de acção de graças e de encomenda dos amigos mortos, ornamentada pela empolgante homilia, numa falhada tentativa de destrinçar a aparente contradição entre o princípio cristão de oferecer a outra face à segunda bofetada e o dever patriótico de defender, todos os dias, o chão nosso da cobiça de estrangeiros, houve manga de ronco. O desfile festivo pela meia dúzia de ruas de Mansoa. À frente, berravam os clarins e rufavam os tambores da fanfarra, vinda especialmente de Bissau. Uma mancha de cáqui amarelado, enfeitada por barretes vermelho vivo com borlas a cair sobre a orelha, a tocar em instrumentos reluzentes as notas falsas de uma marcha de Santo António. A seguir, de riso aberto e ar de felicidade, vinham os soldados da milícia. Depois, nos seus fatos camuflados e de quico na cabeça, vinham os metropolitanos. Todos a marchar com garbo, ante os olhares espantados dos nativos da povoação, admirados por este milagre inesperado duma tropa fandanga que passara a ter, de um dia para o outro, um ar limpo e aprumado.
(continua)
Magalhães Pinto
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