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17.5.08

OS HERÓIS E O MEDO - 264º. fascículo

(continuação)

A manhã foi avançando, lentamente. A certa altura, começou a haver alguma preocupação com os homens idos a Bissau, para trazer o principal do almoço. A manhã estava no fim. O tempo decorrido chegava e sobrava para ir, esperar e voltar. Decidiram mandar uma viatura com alguns soldados, à cata do repasto. Foram dar com os homens junto à ponte de Nhacra. Um deles contou o sucedido. Uma pequena lomba, à entrada da ponte para quem vinha de Bissau, provocava sempre um forte solavanco das viaturas mais apressadas. O condutor tivera menos cuidado e o salto fora um pouco mais violento do que habitualmente. Começara a ouvir um ruído estranho à sua esquerda. Olhou. Estava a ser ultrapassado. Pelo atrelado. Partira-se o engate de reboque. E o atrelado, conquistada a independência, seguira só, ordeira e disciplinadamente, em busca dum futuro próprio, incerto. Quase a par, o jipe e o atrelado tinham percorrido, sem atropelo mútuo, toda a ponte. Mas outro pequeno ressalto à saída desta desfizera a parceria. E o atrelado encetara um pronunciada curva, apontando ao talude que descia, qual abismo para um atrelado, até ao rio. Os atrelados são como os povos colonizados, pensou o Álvaro, um dos destacados, em Mansoa, para ir em socorro do almoço atrasado. Um pequeno mangueiro, ainda na meninice e plantado na ribanceira, impedira que os frangos e o peixe se transformassem em croquetes ou fossem almoço para crocodilos. Todo o conteúdo permanecera no lugar durante a acidentada viagem, salvo um cacho de bananas, pendente agora, insólita árvore ou insólito fruto, de um dos ramos do mangueiro. Içaram o dissidente, ataram-no de improviso ao jipe e prosseguiram para Mansoa, aonde chegaram ainda a tempo. O rio com o mesmo nome corria ao invés, da foz para a nascente, devido à praiamar, embalando docemente a “Cabi Miranda”, a tosca canoa do único pescador de Mansoa. Numa terra alagada como a Guiné, até no campo se encontram pescadores.

(continua)
Magalhães Pinto

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