. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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18.5.08
OS HERÓIS E O MEDO - 266º. fascículo
(continuação)
Vogando nos seus pensamentos, Mário dera pouca atenção às palavras de Soveral, mais uma vez. Só quando o comandante fizera um brinde ao ano passado juntos e ao excelente comportamento dos Águias que, no seu dizer, enchia de brilho a bandeira nacional, ele se levantara também, como os outros, e soltara um “viva” sem qualquer chama.
Estava preparada uma paródia para a noite. A primeira parte era louca. Escrita, encenada e representada por alguns dos homens. A segunda parte era um concerto dos Conchas, um duo de rock popular na Metrópole e a prestar serviço militar em Bissau. O espectáculo abriu com um quadro a puxar ao sentimento. No meio do palco, pendurada num mastro enfiado num garrafão cheio de areia a servir-lhe de suporte, estava a bandeira nacional. Ladeada por dois soldados em camuflado, um branco e um preto, na posição de apresentar armas, G3 tão hirtas quanto eles. Com as luzes reduzidas, entrou no palco o sargento Bernardino. Fazia do clarim o que queria. Durante alguns momentos, as notas do toque do silêncio sairam, lentas, da requinta por ele empunhada, lembrando aqueles que já não estavam presentes. Apesar do artesanato da cena, os olhos de muitos dos homens ficaram mais brilhantes. Emoção logo quebrada pelo Álvaro, a quem cabia a função de apresentador do espectáculo. Contando uma anedota. De salão, que estavam presentes as mulheres de alguns dos militares mais corajosos para as terem junto de si, no meio da guerra, bem como outras senhoras da população civil. E dando entrada a um estapafúrdio conjunto de violas e harmónicas de beiços que interpretou, com sucesso, uma rapsódia de trechos regionais da Metrópole, passeando por todas as províncias, do vira ao corridinho, do fandango ao bailinho. Palmas ritmadas feitas de uma saudade alienada em alegria balofa, marcavam o compasso, substituindo a bateria inexistente. Seguiu-se uma sessão de fados. À falta de guitarra portuguesa, acompanhados à viola e à viola. Brilharam na ocasião o Manel e o alferes Castro, que estudara em Coimbra. Mas a assistência iria ao rubro com os jograis. Uma sucessão de quadras e versos, quase sempre com segundo sentido. A maroteira surgia disfarçada, não fora ofender moralistas:
(continua)
Magalhães Pinto
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