CRÓNICA DA SEMANA

REGRESSO AO PASSADO

Por hábito, sou muito mais voltado para o futuro do que mirone do passado. O que lá vai, lá vai e deve permanecer na nossa memória apenas como factor de aprendizagem, que nos evite cometer sempre os mesmos erros ao longo da vida. Mas nesta semana que findou, fiz uma viagem ao passado. Não por minha vontade, mas induzido por algo que ouvi. Algo que despertou as minhas memórias dum tempo que já lá ficou para trás há bastante tempo. Mais concretamente, regressei ao tempo em que fui autarca neste nosso município de Matosinhos. E tudo porque chegaram ao meu conhecimento duas das propostas mais revolucionárias – no seu próprio dizer – do candidato independente Narciso Miranda, que já foi presidente do município. E, ao escutá-las, dei-me conta de como, nesta política muito de faz de conta, voltamos recorrentemente aos mesmos temas. O que significa que o tempo passa e não se evolui. É como se estivéssemos parados no tempo.

Concretamente, as tais duas propostas são:
- baixar o imposto municipal sobre imóveis (o chamado IMI); e
- legalizar os edifícios chamados clandestinos.

E fiquei siderado. Tudo porque – apesar de alguns políticos pensarem que temos a memória muito curta – me lembro muito bem de dois factos relevantes nesta matéria. O primeiro é que não me esqueço de que foi o referido senhor que, quando do aparecimento da Contribuição Autárquica (que depois mudou para IMI), logo num dos primeiros anos, enquanto muitas autarquias por esse país fora cobravam por taxas mais baixas, aumentou a Contribuição para a taxa máxima. Com a agravante de que, nessa altura, a Câmara não precisava de lançar imposto tão pesado porque tinha muito dinheiro. Em segundo lugar, porque me recordo de que, quando fui autarca na Assembleia Municipal, pelo PSD, tivemos batalhas sérias com o executivo a que ele presidia, para que se acabasse de vez com o problema dos edifícios clandestinos, nessa altura da ordem dos 5.000. E tudo isto se passou ali pelo ano de 1990. O que quer dizer que Narciso Miranda esteve a presidir à Câmara ainda por mais cerca de 14/15 anos. E o problema continuou.

Com estas recordações muito vivas na minha memória, é evidente que não posso dar credibilidade nenhuma às propostas que o referido senhor apresenta agora, no desespero de capturar votos à custa de tudo quanto lhos possa angariar. Nem que para isso tenha, como nestes casos, que prometer fazer o que nunca fez ou, até, o que fez exactamente ao contrário.

Depois destes pensamentos, achei que o melhor era abandonar o passado e concentrar-me no futuro. Sempre promete mais do que houve antes.

MATOSINHOS HOJE - 8/8/2009