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15.9.09

MEMÓRIA

AMOR DE BARRIGA


O Presidente da Associação Empresarial de Matosinhos, Fernando Sá Pereira, indignou-se. E com muita razão. Falou com voz forte. E é por isso que merece o nosso aplauso. Penso que todos que, por actos e não por palavras, mostram o seu amor a esta nossa terra, merecem um aplauso. Eu conto porque foi.

Desde há muito tempo que Sá Pereira vinha propondo à Câmara Municipal a realização de um festival gastronómico da nossa terra, que pudesse aumentar, ainda mais, o apreço que Matosinhos merece aos Portugueses neste domínio. Hoje, um dos maiores valores económicos da nossa terra. E a realização do Euro/2004, aqui perto, oferecia uma oportunidade única de ainda maior divulgação dessa nossa riqueza. Era a oportunidade há tanto tempo esperada.

Subitamente, porém, surge uma outra ideia que é, no mínimo, aberrante. Realizar, nos espaços da antiga Real Vinícola, um festival gastronómico, sim, mas - imagine-se! - internacional. Em lugar de mostrarmos, com carinho, com amor, as riquezas da nossa terra, vamos mostrar as riquezas das outras terras. Em lugar de promovermos Matosinhos, vamos promover Cabo Verde, ou Angola, ou Moçambique, ou o Brasil. Em lugar de aproveitarmos a oportunidade para dinamizar as nossas actividades económicas, vamos dinamizar as dos outros. Em lugar de protegermos os nossos empresários, vamos proteger os de outras paragens. Em lugar de mostrarmos o nosso amor a Matosinhos, até vai parecer que odiamos.

É difícil não atribuir à Câmara Municipal a responsabilidade deste acontecimento bacoco, megalómano, porventura de mera vaidade pessoal de alguém, com avultado prejuízo para a nossa economia local. É que o festival gastronómico internacional vai realizar-se em terrenos sob jurisdição da autarquia. Eu gostaria de saber quem é o responsável, para poder colocar aqui o nome dele, a fim de que todos o ficássemos a conhecer. Na impossibilidade disso, resta-me atribuir à Câmara, como um todo, essa responsabilidade. E afirmar publicamente que isto não é ter amor a Matosinhos. Ou melhor. Ou se ama com o coração ou com a barriga. Neste caso de asneira gastronómica e económica, estamos perante um caso de amor pela barriga.

Há ainda um outro facto lamentável, colocado em evidência pelo Presidente da Associação Empresarial de Matosinhos. É que, para levar a cabo uma iniciativa retintamente económica, a Câmara se esteve nas tintas para a Associação que representa os empresários de Matosinhos. O diálogo, em Matosinhos, é apenas uma figura de retórica. Diálogo que, dadas estas internacionalices, é, com certeza, apenas para inglês ver.

Crónica de Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 1/6/2004

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