(continuação)
Samba Jau aconselhou a ida num táxi. Era perigoso para o branco andar no Pilão depois do sol deitar. Táxis. Uma dificuldade de monta. Mas Samba Jau parecia um roteiro vivo da terra, pensou Mário. Lá foram os três atrás do negro. Alguma emoção receosa calava-lhes os pensamentos. Atravessaram umas tantas ruas secundárias. Ali, fora das avenidas principais, as casas, essencialmente de negros, ja não tinham o relativamente sumptuoso estilo colonial das moradias dos brancos que orlavam as avenidas. Quase todas da mesma altura, pintadas num ocre sujo e cobertas por telhados de chapa zincada. À frente, um alpendre. Sentadas nos degraus, mulheres negras falavam em crioulo, tornando a conversa quase ininteligível para os recém-chegados. Com alguma estridência. Os três amigos seguiam Samba Jau, procurando aparentar uma naturalidade não sentida. Desembocaram numa pequena praceta onde descansava um táxi, pintado nas mesmas cores da Metrópole. Com um motorista negro também. Samba Jau adiantou-se e falou com ele. O homem fez-lhes sinal para entrarem na viatura. Sentaram-se os três no banco de trás. E foram-se. Atravessaram a cidade, em direcção à parte alta. Até que entraram por uma quelha em terra batida, molas da velha viatura a gemerem como homens com cio no momento de saciá-lo.
(continua)
Magalhães Pinto
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