(continuação)
De entre as preocupações mais prementes, encontrar uma lavadeira. Problema fácil de resolver. À porta do quartel amontoavam-se as raparigas. Quando algum militar passava por elas, agarravam-se às mangas da farda, à meia dúzia de cada vez, e faziam enorme algazarra. "Branco... Branco... bô miste lavadêra?... mim bô lavadêra...".
Estranha linguagem. Será que não tivemos tempo de ensinar a nossa língua? E tão crianças, ainda. Deviam estar na escola. Estabelecem já a estratificação social. Branco... Branco... Na lavagem da roupa do branco parece concentrar-se toda a sua ambição presente projectada no futuro. Um futuro de dois anos. Seguido de outro futuro de dois anos. E de outro. E de outro ainda. Futuro retalhado pelos ventos da História. Cosido a ponto cruz das pistolas-metralhadoras. Larguem-me a farda...
(continua)
Magalhães Pinto
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