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30.12.07

OS HERÓIS E O MEDO - 131º. fascículo

(continuação)

A certa altura da sua deambulação, passaram por um rapaz com ar envergonhado, sentado no muro a servir de barreira antes do rio. Olhos negros, tímidos, baixos quando olhados. Um ar de gazela, entre o curioso e o assustado. Idade indefinida, embora já adulta, seguramente. Manuel entabulou conversa com ele. Como te chamas? Numa voz sumida, o rapaz disse. Samba Jau. És mesmo o que nós precisamos, Samba. Alguém que nos ensine a dançar. Essa ou outra dança. Onde pode branco encontrar mulher, Samba? O moço pareceu não entender. Com a cabeça, fez um gesto em círculo, como a dizer que havê-las por todo o lado. Não é isso, palerma! Mulher para ir na cama, rapaz. Ah! Branco quer partir catota? A gargalhada dos três foi uníssona. Também não é preciso ser até partir a catota! Ai é catota que a coisa se chama aqui? Ok. Nós queremos partir a catota ou lá como queiras chamar. Mas para isso precisamos de mulher. Só se vai no Pilão, respondeu Samba Jau. A ideia pareceu não agradar muito. Mas a força da natureza é muito grande aos vinte anos. Os receios, já pintados por alguns, da enorme tabanca de Bissau, foram adormecidos pelo desejo. Dizia-se viverem ali mais de cem mil nativos e contavam-se histórias de alguns que tinham ousado lá entrar e nunca mais ninguém lhes tinha posto a vista em cima.

(continua)
Magalhães Pinto

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