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28.12.07

OS HERÓIS E O MEDO - 129º. fascículo

(continuação)

As notícias desse dia tinham sido animadoras e os três amigos comentavam-nas. Já inha terminado a operação “Tridente”, na Ilha do Como, a menos de cem quilómetros a sul de Catió. As histórias contadas pelos militares regressados da operação, agora a gozar um merecido descanso em Bissau, matavam os boatos e as lendas. Ou reforçavam.nos, pensava Mário. Chamar ilha ao Como era, simultâneamente, uma precisão geográfica e aparentemente um erro. Quem olhasse para o mapa da Guiné, mal diria estar ali uma ilha. Parecia território continental. E, para fins de guerra, assim se comportava. Mas o entrecruzamento de três rios definia, em conjunto com o mar, um pedaço de terra rodeado de água por todos os lados. Porém, os rios só eram largos e difíceis de atravessar na maré alta. Os guerrilheiros podiam reabastecer-se com facilidade. Ali tinham estado em combate, durante cerca de três meses, mais de mil soldados portugueses. Para aniquilarem uma força guerrilheira de centena e meia de homens. A desproporção era, todavia, compensada pelo apoio das populações controladas pelos guerrilheiros e pelo seu maior conhecimento das condições do terreno, do qual tiravam proveito. Mais do que os mortos e os feridos, tinham sido as doenças o maior adversário dos continentais. As condições de vida eram terrivelmente duras. Ainda com pouco tempo de guerra, os soldados viviam sem abrigo, dormiam ao relento quando os combates deixavam, bebiam água contaminada e sofriam os desvarios de mosquitos esfomeados. Alimentavam-se mal. Tinham estado quase dois meses a comer apenas rações de combate, com uma só refeição quente durante todo esse tempo. Mas, contavam os regressados, controlavam todo o território no fim da operação. Com grandes baixas para o inimigo, diziam as notícias. E com a libertação das populações submetidas ao seu controlo. A história, uma vulgar história daquela guerra, igual a tantas mais, fizera Mário mergulhar de novo nos seus pensamentos solitários.

(continua)
Magalhães Pinto

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