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25.12.07

CRÓNICA DA SEMANA

Durante cerca de treze anos, a minha voz foi praticamente a única que se ouviu no país, afirmando que o Poder, no BCP/Millennium não tinha as virtudes que diariamente eram entoadas por uma legião de opinadores, todos entretidos em cantar a loa dos poderosos. Não houve quem murmurasse que a minha insistente chamada dde atenção tinha a ver com o facto de ele se ter apropriado da instituição para a qual trabalhei durante um terço da minha vida activa. O tempo passou. Nunca abrandei na minha forte opinião crítica. Tinha-a assente no conhecimento pessoal da prática de uma série de actos a que faltava o esteio essencial da ética. E tenho para mim que quem não se restringe a abandonar a ética num ou outro momento é sempre capaz de fazer pior.

Pois bem. O tempo deu-me razão. Jardim Gonçalves, presidente daquele banco , acaba de cair estrondosamente. Aquele que foi tantas vezes considerado o génio, o criador, o reformador, o poderoso, desmoronou-se com um fragor maior do que o das torres de Nova Iorque. O rol das operações realizadas com indícios de irregularidades criminais não tem fim. E só se os grandes prejudicados por esses actos – os pequenos accionistas do banco - ficarem calados é que ele evitará vir a cair nas malhas da Justiça. De momento, tem estado caladíssimo, não obstante ainda seja o Presidente supremo da instituição, deixando que subordinados seus dêm a cara e sejam imolados na praça pública. Mas devemos saber que, durante o longo reinado de Jardim Gonçalves, só ele mandava efectivamente no BCP. O resto era uma longa paisagem de servidores da vontade suprema do chefe. Uma atitude, afinal, que não contrasta com a longa série de gestos eticamente mais do que duvidosos, que se iniciaram logo que foi convidado para presidir à, então, instituição nascente e, tendo aceitado, ficou ainda uns tempos como presidente do BPA. Algo em que ninguém pareceu (ou quis) reparar, mas que constituía uma falha moral gravíssima por parte de quem se destinava a dirigir aquela que seria uma das maiores instituições financeiras de Portugal. O mito começou aí.

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Excerto da crónica O MITO - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 25/12/2007

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