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26.12.07

OS HERÓIS E O MEDO - 127º. fascículo

(continuação)

Aguenta, Mário. Faz de cada negro um amigo e, ao mesmo tempo, suspeita dele como inimigo. Estranho sentido da amizade. Não alimentes boatos e conforma-te com viver na ignorância. Quando ouvires dizer que, no Como, as coisas correram para o torto, fecha os ouvidos, faz-te surdo, recusa acreditar. Sê e não sê, ao mesmo tempo. Esquece-te. Aqui, não tens que pensar, só tens que agir. Até ao momento de levares um tiro, não passas de marioneta. Depois passas a ser um número nas estatísticas. O inimigo está a ser perseguido por todos o lado. E aqueles quatro caixões na capela lá em baixo, ontem à noite, devem ter sido por esgotamento da corrida atrás deles. Meus camaradas!. Se eles soubessem, ao menos, o que vos estão a pedir! Se eles soubessem que, nesta idade de personalidade mais vigorosa que nunca, embora menos firme, vos pedem o esquecimento de ser gente! Eles não sabem haver, por debaixo dessa capa ordenada, alinhada, mecânica, do vosso comportamento, almas pensantes, com sentimentos, cheias de incertezas. Talvez cheias de medos. Muitos de vós nunca matou uma galinha lá na aldeia. Ides sentir na pele da alma o que é matar um homem. Provavelmente negro. Do mesmo negrume daqueles que vos dizem dever tratar como amigos. Para onde vamos com tantas contradições?

(continua)

Magalhães Pinto)

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