(continuação)
Mário deixara de ouvir a prelecção até ao fim. O seu espírito agastado tinha-se perdido numa longo solilóquio. Tão inóspito e adverso como aquela caminhada prestes a iniciar-se.
A viagem decorreu sem incidentes até Mansoa. A estrada, quase toda plana e com curvas bem lançadas, permitia uma velocidade razoável. Não favorecia as emboscadas. E o piso alcatroado não era propício à existência de minas. Mal passaram a ponte nova sobre o rio Mansoa, mesmo à entrada da povoação, tudo se alterou, porém. Os sapadores foram mandados descer das viaturas. Eram oito. De vareta de ferro na mão. Precedendo as viaturas e picando com a vareta tudo o que no solo lhes parecesse suspeito e susceptível de esconder uma mina. Ainda nenhum dos homens tinha visto os efeitos das minas. Melhor seria se não vissem, pensava Soares da Cunha. Eram ambas, as anti-pessoal e as anti-carro, devastadoras. De material e pessoal. Ocupados, uns na tarefa de picar o caminho e outros suspensos dessa actividade, a maioria dos homens não apreciava sequer a luxúria da vegetação em seu redor. Em África, designadamente nas regiões tropicais, de chuvas intensas e calor sufocante, as plantas eram raínhas. Os mangueiros, de copa abastada, pareciam estar ali desde a criação do mundo. Esfusiantes de vida, frutos ainda verdes pendentes de todos os ramos. Cajueiros cresciam, selvagens, sem tratamento, mostrando os seus apetitosos frutos amarelos e encarnados, de onde se projectava a noz, como se fosse um monstruoso nariz. De repente, ao voltar duma curva, acabava a mata, para se estender, a perder de vista, uma terreno plano, enlodaçado, a temível bolanha, onde, rezavam algumas histórias, alguns homens tinham ficado atascados durante uma emboscada, feitos alvos inertes das balas inimigas.
(continua)
Magalhães Pinto
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