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18.1.08

OS HERÓIS E O MEDO - 160º. fasc+iculo

(continuação)

Depois de percorrerem a avenida durante algum tempo, Álvaro e Manuel embrenharam-se nas ruas secundárias. As crianças brincavam. Aos magotes. Quase todas rapazes. As raparigas, bajudas no dialecto local enquanto virgens, trabalham mal sabem andar. Geralmente, a sua primeira tarefa é o esmagar do milho com o pilão, batendo incansavelmente com ele numa espécie de almofariz de madeira, até reduzirem os grãos a farinha. Os dois jovens detiveram-se um pouco a ver uma bajuda, de idade indefinida, a pilar o milho. Tronco nu, com pérolas de suor a brilharem na tez escura. Seios a balançar ao ritmo das pancadas. Manuel confessou ao amigo o desejo de tocar naqueles seios que se adivinhavam macios. Estás maluco! Ainda levas com o pilão nos cornos! Mas o formigueiro que Manuel sentia nos dedos dificilmente se acalmaria sem o desejo satisfeito. Foram-se aproximando. Tentaram entabular conversa com a rapariga. Ela não dizia nada. Só sorria. Um sorriso envergonhado. De dentro da palhoça, a que chamavam morança, saiu um homem, com outro filho, ainda bébé nos braços. Quer retrato, perguntou ele, num português macarrónico. Tem que dar dez pesos para a comida da criança, preveniu o homem. Tudo se vendia, pelos vistos. Manuel não ousou dizer o que lhe apetecia. Embora talvez o pudesse ter feito. A troco de pesos tudo se fazia na guerra. Mas ainda não estava afeito aos costumes. Ainda prevaleciam as peias sociais trazidas da Metrópole.

(continua)
Magalhães Pinto

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