. . . OS SINAIS DO NOSSO TEMPO, NUM REGISTO DESPRETENSIOSO, BEM HUMORADO POR VEZES E SEMPRE CRÍTICO. . .
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3.1.10
A LEI GAY
Pela actualidade de que se reveste para Portugal, onde os socialistas querem, a toda a força, legalizar o casamento gay, publica-se, com a devida vénia, a crónica de Luís Fernando Veríssimo (filho do escritor Erico Veríssimo) publicada na Folha de São Paulo. Deliciosa, fustiga como poucos o absurdo do que ocupa os socialistas portugueses.
(texto adaptado ao Português de Portugal)
***
Arvore Genealógica
- Mãe, vou casar!
- Jura, meu filho ?! Estou tão feliz ! Quem é a moça ?
- Não é moça. Vou casar com um moço. O nome dele é Murilo.
- Disseste Murilo... Ou foi meu cérebro que sofreu um pequeno surto psicótico?
- Eu disse Murilo. Porquê, mãe? Tá acontecendo alguma coisa?
- Nada, não.. Só minha visão que está um pouco turva. E meu coração, que talvez pare. No mais, tá tudo óptimo.
- Se a mãe tiver algum problema em relação a isto, melhor dizer já...
- Problema ? Problema nenhum. Só pensei que algum dia ia ter uma nora... Ou isso.
- Você vai ter uma nora. Só que uma nora... meio macho. Ou um genro meio fêmea.
- Resumindo: uma nora quase macho, tendendo a um genro quase fêmea...
E quando eu vou conhecer o meu... A minha... O Murilo ?
- Pode tratá-lo por Biscoito. É o apelido.
- Tá ! Biscoito... Já gostei dele... Alguém com esse apelido só pode ser uma pessoa bacana. Quando é que o Biscoito vem aqui ?
- Por quê ?
- Por nada. Só pra eu poder preparar o teu pai com antecedência.
- Ó mãe, achas que o pai não vai aceitar ?
- Claro que vai aceitar! Lógico que vai. Só não sei se ele vai sobreviver... Mas isso também é uma bobagem. Ele morre sabendo que encontraste a tua cara-metade... E olha que espectáculo: as duas metades com bigode...
- Mãe, não brinques ... Hoje em dia, praticamente todos os meus amigos são gays.
- Só espero que tenha sobrado algum que não seja... Pra poder apresentá-lo à tua irmã.
- A Bel já tem namoro, mãe...
- A Bel? Já namora?! Ela ainda não me disse nada... Quem é?
- Uma tal Veruska...
- Como?
- Veruska...
- Ah!, bom!... Que susto! Pensei que tivesses dito Veruska.
- Mãe!!!...
- Tá..., tá..., tudo bem... Se vocês são felizes. Só fico triste porque não vou ter um neto...
- Porque não? Eu e o Biscoito queremos dois filhos. Eu vou doar os espermatozóides. E a ex-namorada do Biscoito vai doar os óvulos.
- Ex-namorada? O Biscoito tem ex-namorada?
- Sim, de quando era hetero... A Veruska...
- Qual Veruska?
- A namorada da Bel...
- "Peraí". A ex-namorada do teu actual namorado é a actual namorada da tua irmã... Que é minha filha também... Que se chama Bel. É isso? Porque eu perdi-me um pouco...
- É isso. Pois é... A Veruska doou os óvulos. E nós vamos alugar um útero.
- De quem?
- Da Bel.
- Mas... logo da Bel?! Quer dizer então... Que a Bel vai gerar um filho teu e do Biscoito. Com o teu espermatozóide e com o óvulo da namorada dela, que é a Veruska...
- Isso.
- Essa criança, de uma certa forma, vai ser tua filha, filha do Biscoito, filha da Veruska e filha da Bel.
- Em termos...
- A criança vai ter duas mães : tu e o Biscoito. E dois pais: a Veruska e a Bel.
- Por aí...
- Por outro lado, a Bel... além de mãe, é tia... Ou tio.... Porque é tua irmã...
- Exacto. E, no próximo ano, vamos ter um segundo filho. Aí, é o Biscoito que entra com o espermatozóide. Que dessa vez vai ser gerado no ventre da Veruska... Com o óvulo da Bel. A gente só vai trocar.
- Só trocar, né? Agora o óvulo vai ser da Bel. E o ventre da Veruska...
- Exacto, mãe!
- Agora eu entendi! Agora eu realmente entendi...
- Entendeste o quê, mãe?
- Entendi que é uma espécie de swing dos tempos modernos!..
- Que swing, mãe?!!....
- É swing, sim! Uma troca de casais... Com os óvulos e os espermatozóides, uma hora no útero de uma, outra hora no útero de outra...
- Mas..
- Mas, os tomates! Isso é um bacanal de última geração! E pior... Com incesto no meio...
- A Bel e a Veruska só vão ajudar na concepção do nosso filho, só isso...
- Sei!!!... E quando elas quiserem ter filhos...
- Nós ajudamos...
- Queres saber uma coisa, filho? No final das contas não entendi nada. Não entendi quem vai ser mãe de quem, quem vai ser pai de quem, de quem vai ser o útero, o espermatozóide... A única coisa que eu entendi é que...
- O quê, mãe?...
- Fazer árvore genealógica da família, daqui pra frente... vai ser fodido...
Luís Fernando Veríssimo
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