(continuação)
Naquele dia, o capitão Nascimento mandou chamar o furriel miliciano Mário mais cedo do que o habitual. Mário era uma espécie de braço direito do capitão. Operacional, fora por este escolhido para as tarefas administrativas graças à sua formação na vida civil e ao seu evidente espírito de colaboração em todas as tarefas. Fora escolhido numa espécie de concurso entre vários candidatos. Não muitos. A maior parte dos homens preferia o anonimato das formaturas, na esperança de, assim, melhor evitar o trabalho. Ainda aí, o espírito de orientação estava presente. Dar nas vistas o menos possível era um mandamento para os que esperavam a passagem serena do tempo de serviço. Com o mínimo esforço possível. Como alguém que numa estação ferroviária, sabendo a hora de partida do comboio, conta os cravos de fixação da linha. Não foi, por isso, difícil a Mário ganhar o lugar. Além da boa prova prestada - quase só escrever à máquina e fazer umas operações numa calculadora pré-histórica, daquelas de alavanca - dois, raaac, mais dois, raaac, estrela, raaac - o capitão Nascimento gostara do seu modo de olhar, sem baixar os olhos, numa atitude de franqueza e lealdade. A lealdade era uma qualidade essencial para o posto, dadas as sensibilidades inerentes ao saco azul.
(continua)
Magalhães Pinto
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