(continuação)
O capitão Nascimento era o chefe dos serviços administrativos da Unidade. Para além de providenciar as contas necessárias à verificação dos pressupostos orçamentais, tinha a seu cuidado a agro-pecuária, na qual punha todo o seu orgulho. Os porcos e as galinhas, eram o seu encanto. Sobretudo os porcos. Alentejano, devia encontrar aí o sempre desejado regresso às origens de qualquer ser humano a aproximar-se do fim. Era engraçado vê-lo a dar instruções ao cabo Sousa, lateiro como ele, seguramente futuro capitão também, sobre a alimentação da "Reca", quando esta estava prenhe. Quase chorava se algum leitão morria antes do tempo. E não era pelo prejuízo. Por muito cioso que o capitão Nascimento fosse do saco azul da Unidade. Era como se cada porco fizesse parte da sua grande família. Uma família feita de rostos sem fim, passados pela Unidade. Alguns quase sem tempo para se lhes aprender o número, logo tragados pelos batalhões de partida para África. Quando acontecia o mobilizado ser um dos seus subordinados mais directos, o velho capitão lá encontrava uns tostões no fundo do saco azul para lhe oferecer uma esferográfica reluzente. É para não te esqueceres de escrever à família todas as semanas, dizia. E lá se ia o produto de uma perna de porco sobrante do rancho.
(continua)
Magalhães Pinto
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