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30.10.07

´CRÓNICA DA SEMANA

Não obstante tudo o que se possa pensar, o mundo dos negócios está assente numa trave mestra fundamental. A confiança. Sem ela, não são possíveis negócios. Compramos um produto ou serviço confiantes de que o que compramos vai satisfazer a nossa necessidade. Por isso, pagamos um preço. Por isso, somos cuidadosos na escolha da entidade a quem compramos tal produto ou serviço. Cientes de que o tempo altera quer os factores de decisão de quem compra, quer a capacidade de quem vende para satisfazer o seu compromisso, em muitos casos reduzimos a escrito os termos do contrato respectivo. Mas, mesmo aí, ao apormos a nossa assinatura num documento que fica a reger qualquer transacção, ainda estamos confiantes. Em muitas coisas. E, principalmente, em que quem assina honrará a sua assinatura.

Isto exige, naturalmente, que quem se envolve no mundo dos negócios deva precaver os seus actos, as suas atitudes, as suas palavras. É da natureza impoluta dos actos, das atitudes e das palavras de alguém que anda no mundo dos negócios que resulta um factor inestimável para o seu sucesso: o crédito. A credibilidade da pessoa, garantia da credibilidade dos negócios que com tal pessoa se tratarem. Dito assim, isto aplica-se qualquer que seja a natureza do negócio em que cada qual se envolve. Mas a exigência assume um grau ainda maior quando estamos a falar de um banqueiro. O objecto do negócio de um banqueiro é o dinheiro. Dinheiro que é, por um lado, o bem mais fungível que há. Isto é, o bem que se pode trocar seja porque bem material seja. Dinheiro que é, por outro lado, a tradução material de tudo quanto pertence a cada qual. Enfim, porque o objecto do negócio dá muito poder a quem o negócio pertence ou administra.

Vem isto a propósito de uma carta – que deveria ser íntima e muito pessoal - publicada na última edição do “Expresso”. Escrita pelo Presidente do Conselho Superior – isto é, pela autoridade suprema dos órgãos de gestão – do Banco Millenium/BCP. Por objecto, aquilo que tem sido o grande tema de conversa e polémica sobre aquele banco. As dívidas alegadamente perdoadas ao filho daquele Presidente. Uma carta cuja leitura me deixou atónito. Tão artificial como disparatada nos seus argumentos. Uma carta cuja anatomia de algumas passagens vale a pena analisar, para bem termos a noção da qualidade com que aquele banco é gerido.

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Excerto da crónica ANATOMIA DE UMA CARTA - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 31/10/2007

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