(continuação)
Foi à companhia de seguros. Os colegas e superiores imediatos olharam-no com ar de comiseração quando ele lhes deu a notícia. Especialmente a Joana, uma escriturária um nada mais nova do que ele. Costumava mirá-lo subrepticiamente quando, nas férias, Álvaro aproveitava para dar uma ajuda nos serviços atrasados da companhia, assegurando assim mais uns tostões. Os seus olhares passavam despercebidos ao rapaz. Não que este não tivesse um ou outro derriço. Mas nunca nenhuma chegara a penetrar na sua intimidade. Álvaro só não era virgem porque, uma noite, depois de um jantar entre colegas da companhia, alguns deles tinham resolvido dar uma volta pelo Bairro Alto. E a noite acabara numa casa de passe. Um dos colegas tinha falado com uma das mulheres e tinha-lhe recomendado o rapaz. Era a primeira vez e o caso merecia atenções especiais. Desajeitadamente, Álvaro desobrigara-se dos seus deveres, quase nem dando tempo à mulher para ter cuidado com ele. A experiência não lhe tinha agradado particularmente. E Álvaro, depois de confessar o pecado e ouvir os conselhos do padre confessor, prometera à Virgem Maria e a si próprio que só voltaria a fazer tal com a sua mulher.
Passou um dia calmo, no quartel. E à noite, ao regressar a casa, ofereceu a si próprio, pela primeira vez, uma prenda. Aliás, era a primeira vez que recebia uma prenda. Num quiosque da Rua do Ouro comprou um jogo de xadrez. Tanto quanto imaginava a guerra no Ultramar pelas notícias ouvidas, ia precisar do jogo para passar o tempo. Daí a dois meses apresentar-se-ia em Santa Margarida. Ia tentar passar bem esses dois meses, decidiu.
(continua)
Magalhães Pinto
Sem comentários:
Enviar um comentário