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26.10.07

OS HERÓIS E O MEDO - 66º. fascículo

(continuação)


IX

António Soveral foi passear com a mulher e a filha nesse longo fim de semana. O 15 de Agosto calhava a uma terça-feira e Soveral decidira juntar-lhe a segunda também. Com alguma má vontade da parte de Rafaela. O fim de semana passado com os pais significava estar longe do Zé António tempo demasiado. O Zé era um companheiro delicioso, tanto na cama como fora dela. E, além disso, tinha-a já introduzido no círculo dos seus amigos. Gente livre, rebelde como ela. Costumavam encontrar-se todos numa casa isolada para os lados do Barreiro, para beberem uns copos. Fumarem erva, então a circular em círculos bastante restritos. Ouvirem música. Ás vezes um deles recitava poesia. Era comum os poemas recitados serem de Manuel Alegre, um poeta que ela desconhecia. Mas gostava dos poemas, da revolta neles contida. Ainda chegou, uma vez, a rebuscar a bem abastecida biblioteca do pai, para ver se encontrava lá alguma referência ao poeta, mas não encontrou nada. Lá para as tantas, alguém metia na conversa o bota-abaixo do regime. As vozes baixavam de tom, nessa altura.

(continua)
Magalhães Pinto

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