(continuação)
Assim Rafaela ficou a saber da nova mobilização do pai. Era-lhe relativamente indiferente. Desde muito nova se tinha habituado à ideia de lhe não pertencer o pai. E de ser seu destino andar a saltar de lado para lado. Além disso, entendia que a função de um militar era fazer a guerra e o pai, tal como o irmão, não tinha outro remédio senão fazê-la, agora que ela existia. Já quando fora da invasão da Índia, apanhando lá o irmão, tivera grandes discussões com a mãe sobre o assunto. A mãe vivera quase de luto quando o irmão fora aprisionado. Como se ser prisioneiro não fosse um dos riscos de ser militar. Sempre era bem melhor do que morrer, outro dos riscos, e o maior, da função. Era bem melhor comer pão amassado pelo diabo do que morrer, concluía ela sistematicamente, quando a mãe lamuriava os prováveis tormentos do filho no campo indiano de prisioneiros.
(continua)
Magalhães Pinto
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