Tem mistérios, tem heróis, tem vilões, tem surpresas, tem tesouros escondidos, tem escaramuças, tem mortos e feridos, tem acção e até tem um americano, surgido sabe-se lá de onde e porquê, para derrotar os vilões ou os heróis, também ainda não se sabe. Tem todos os condimentos de uma aventura, do género da já famosa obra dos estúdios Disney, “Piratas das Caraíbas”. E não veja nesta nota qualquer alusão às Ilhas Cayman. A história do “Banco BCP/Millenium/Novarede/Bital/Atlântico/Quase BPI/BPI quase” é a aventura do milénio. Com produção, realização, argumento e fundo musical de um só homem, ao que tenho lido na Comunicação Social da minha distinta terra. Uma comunicação que, como é costume, se virou agora contra o senhor, atribuindo-lhe as mais mirabolantes condições. Que foi o fundador. Que foi o revolucionador. Que foi o génio. Que foi o traficante. Que foi o protector. Que foi, enfim, os pés de barro do colosso até aí sobre rodas. Há muita fantasia nisto tudo. O homem foi apenas um… homem. Diante de quem se postaram circunstâncias excepcionais que ele, habilidosamente, soube aproveitar. Não se pode esquecer que, neste lavar dos cestos de uma história emocionante, se descobrem habilidades que, sendo comuns na Banca, só muito dificilmente costumam vir a público. A público? À praça pública. Porque, da maneira como as coisas estão, isto já se assemelha muito a um mercado.
As autoridades políticas, financeiras e monetárias portuguesas têm muita responsabilidade no argumento do filme. Porque pactuaram, umas vezes. Porque calaram, outras. Porque incentivaram, ainda outras. Porventura, até, porque promoveram as habilidade.
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Em primeiro lugar, a situação de todos aqueles accionistas que não foram accionistas. Na generalidade, pequenos accionistas, muitos dos quais ainda hoje a sentirem na pele do logro que foi subscrever acções do BCP/Millennium a cinco euros cada. Eu não sei como classificar essa operação. O termo que mais imediatamente me assalta é “roubo”. Mas penso que é demasiado forte. Bancos não roubam, só negoceiam. De qualquer modo, só há uma atitude legítima a assumir perante esses pequenos accionistas, se se confirmar que os “amigos” não tiveram prejuízos. Uma atitude de justiça. Uma atitude moral. O BCP/Millennium deve assumir todos os prejuízos sofridos por essa gente. Claro que temo muito os resultados de uma tal atitude. Serão de tal gravidade que as autoridades terão que a não permitir. Não podemos dar-nos ao luxo de ver falir o nosso maior banco, maior pelo menos formal que o resto não se sabe. Mas, se tal não puder ser possível, há uma medida alternativa que, não reintegrando patrimónios materiais, deixa incólumes, pelo menos, patrimónios morais. A responsabilização, até às últimas consequências, dos génios que programaram a habilidade. Não podemos nunca esquecer que, se o Banco perdoou a “amigos” prejuízos nas acções “adquiridas”, contabilizando a perda como prejuízo do banco, defraudou duplamente os pequenos accionistas a quem não o fez: por um lado, estes suportaram o prejuízo próprio e, por outro, também suportaram o prejuízo dos outros no valor da sua parte de capital.
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Excertos da crónica A AVENTURA DO MILLENNIUM - Magalhães Pinto - "VIDA ECONÓMICA" - 13/12/2007
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