(continuação)António Soveral entendeu a ameaça. Ele conhecia bem os métodos do regime. Concordava genericamente com eles. O inimigo interno era o mais difícil de combater naquela guerra. Mas os jovens estavam tão mal informados. Ele próprio nunca alertara os filhos contra a ameaça do comunismo. Era tabú, lá em casa, como quase por todo o lado. O temor da polícia política era tanto que as pessoas tinham até medo de pronunciar a palavra comunismo. Mesmo nos comunicados e nas intervenções oficiais, os comunistas eram eufemisticamente referidos como os pró-soviéticos. Mas Soveral preferiu agir como se não tivesse entendido a ameaça. Sentado numa atitude formal, aprovou a atitude do polícia. Juntando a essa aprovação o comentário de que não se podia fazer do país um imenso campo de concentração, razão pela qual era melhor prevenir do que remediar. E reconhecia as dificuldades da polícia de segurança, na tentativa de agir apenas contra os verdadeiros culpados da subversão que, reconhecia, alastrava no país. Despediu-se com alguma frieza.
(continua)
Magalhães Pinto
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