(continuação)
Durante os dias seguintes, António Soveral aproveitou todas as oportunidades para deixar reserva moral na família para mais esta ausência. Encarregou o filho de olhar pela propriedade agrícola. E deu à filha a atenção que minguara durante anos a fio. Quando se despediu deles, faltaram-lhe os dotes oratórios que costumava usar com os seus soldados. Um nó de emoção apertava-lhe a garganta. Isso e um presságio. Nunca mais voltaria a ver a família unida como naquele dia. Nem sonhava que, um dia mais tarde, quando uma manhã redentora libertasse forças sociais insuspeitadas, mas temidas, com o filho já emigrado para França, a filha optaria por se juntar às forças mais revolucionárias de esquerda, ocupando-lhe a propriedade agrícola em nome de um slogan ainda por inventar. A terra para quem a trabalha.
(continua)
Magalhães Pinto
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