(continuação)
Tudo tão calmo! Porquê, então, este receio a atropelar-me a alma? Porquê este aperto, esta angústia? Porquê este grande ponto de interrogação, simultâneamente exitado e receoso? Porquê o corpo a retorcer-se de descontentamento, espantalho animado pela inquietação da alma? Está visto, a minha massa, a nossa massa, já não é a de Quinhentos. Como é que foi? Ah! A curiosidade estava, então do lado de lá. Se me tivesse lembrado, tinha trazido uns berliques e berloques para comprar simpatias. Estou a ser parvo! A guerra deve ficar lá mais longe. Devia ser proibido fazer a guerra num local tão pacífico. E além do mais, aqueles negros todos não estão armados. Não sejas parvo, Mário. Olha os teus camaradas, como eles riem e se mexem e falam em voz alta, alvoroçados, também, pela novidade. A não ser que tudo seja, receoso nervosismo. Como aquele que estás a sentir, Mário. Se calhar, o Manel tem razão. Viemos para fazer turismo. Se calhar, ainda é como sempre foi. Basta o homem branco mostrar-se, para o negro se curvar reverencialmente à sua passagem. Que calor! Se isto for sempre assim, vamos assar. Oxalá não seja no espeto. E aquelas aves todas ali? Parecem abutres. Milhares de abutres. Mas, também elas, tão quietas! Meu Deus! Isto não é uma cidade, é um postal ilustrado. Ok! Já vou.
(continua)
Magalhães Pinto
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