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17.12.07

OS HERÓIS E O MEDO - 118º. fascículo

(concluído)

Os dias seguintes foram de adaptação e atenuaram substancialmente os receios de Mário. Ia-se ajustando lentamente ao novo cenário da sua vida. Afinal, Bissau era uma cidade tranquila. Cheia de movimento, embora os militares parecessem exceder os civis, em número. Uma adaptação inquieta, permanentemente surpreendida. Lentamente surpreendida. Tudo era lento. E colorido. África surgia ante os seus olhos. Os veteranos guiavam os “periquitos” nas primeiras andanças. Distinguiam-se bem uns dos outros. Ainda afeitos à disciplina da Metrópole, os “periquitos” fardavam a rigor, calções enfestados, meias da ordem até aos joelhos e botas de lona, ainda novas. Em breve, perdido o festo das calças, peúgas destrambelhadas a espreitar do calçado botas a acastanharem em uníssono com a pele mordida pelo Sol, os “periquitos” seriam promovidos a veteranos, com direito a chamar “periquito” a qualquer recém-chegado à província. Alguns, mais curiosos, procuravam encontrar explicação para o epíteto. Não tinham encontrado outra que não fosse o sem jeito de caminhar da pequena ave. Um sem jeito porventura mais devido aos calções – que muitos nem em criança tinham chegado a usar – do que a qualquer outro motivo.

(continua)
Magalhães Pinto

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