(continuação)
Oxalá a prevenção acabasse nessa noite, pensou de novo. Precisava de tempo livre. Não queria ver adiada a entrevista com o Ministro aprazada para o dia seguinte. Devidamente autorizado, iria subir mais esse degrau na escada das suas reivindicações. E se não resultasse havia de falar com o "Velho". Não podia abandonar o seu filho. O seu conceito de honra tinha a família em primeiro lugar. Porventura, antes mesmo da Pátria. Um oficial distinto como ele, com a folha de serviços tão cheia de louvores e condecorações, haveria de encontrar alguma audição para os seus argumentos. Há quase seis meses, o filho era prisioneiro da sua Pátria, depois de mais de um ano prisioneiro do inimigo. Não que as prisões fossem comparáveis. Mas o opróbio, se diferente era, desfavorecia a prisão de agora.
Lentamente, resvalou num sono ligeiro, após ter feito o sinal da cruz. Lá fora a chuva miudinha, de nem pão nem queijo, de molha-tolos, continuava a esvoaçar, encharcando a parada e o sargento de dia em ronda. Nas casernas, o pessoal dormia a sono solto, depois de a maior parte ter estado entretida a jogar o montinho e o abafa, a dinheiro. Não tolerava o jogo. A recordação do acontecido com o pai estava ainda demasiado fresca. Mas sabia não poder fazer nada para o impedir. O jogo era, entremeado com as histórias mirabolantes de cunho sexual, quase o único escape para militares em ócio, sem saberem como utilizar o tempo.
(continua)
Magalhães Pinto
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