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6.10.07

OS HERÓIS E O MEDO - 46º. fascículo

(continuação)

VI

Mário retardava o passo. Não sentia pressa em encontrar-se com a noiva. A estúpida guerra em que o país estava envolvido tinha, num rude golpe, atingido todos os planos por ambos sonhadoramente arquitectados assim que a mobilização de Mário pareceu desaparecer do horizonte. A estratégia por ele seguida parecia resultar vencedora. As mobilizações seguiam a ordem inversa da classificação obtida na recruta. Por isso se empenhara tanto, a ponto de ser conhecido entre os colegas como o "militarista". Ficou num dos primeiros lugares entre mais de duzentos camaradas. Não tinha sido difícil. A maior parte dos milicianos procurava passar o tempo de serviço com o menor esforço possível. Três longos e ansiosos anos se haviam escoado, sempre à espera da notícia fatal. Até que, feitas as rendições daquele ano e não tendo sido mobilizado - viria a saber mais tarde que, do seu curso, tinham escapado ele e mais cinco - a passagem à disponibilidade ficou à vista. Foi o momento de pensar no futuro. Na conclusão dos estudos, interrompidos por força do serviço. No casamento, até aí sem horizonte visível. Na carreira profissional. Ele e a noiva tinham passado os últimos três meses a planear o casamento para o Outono seguinte. À procura de casa. A escolher móveis. A programar a viagem de núpcias. Sob ameaça permanente desde que Mário assentara praça, a vida deles parecia agora colorir-se de todas as cores do arco-íris. Apesar do tempo ter estado bastante instável, aquele Verão era o mais radioso dos últimos anos, porventura da toda a sua vida.

(continua)
Magalhães Pinto

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