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9.10.07

OS HERÓIS E O MEDO - 49º. fascículo

(continuação)

Não, não sabia para onde ia, Fátima. A ordem de mobilização não dizia nada sobre isso, Fátima. Nunca diziam nada sobre isso. O militar não passava de um número, perdidos que eram todos os direitos de cidadania. Não tinha maneira de desfazer aquela dúvida a dançar nos teus olhos, convencida de eu estar a esconder-te a verdade. Não seria capaz, naquelas circunstâncias, Fátima. Esboroado o mundo que vínhamos a construir desde há alguns meses, ter-te-ia feito beber, naquele momento, todo o fel que sentia a correr nas minhas veias. Em certos momentos, em que nada se pode esconder. E aquele era um deles. Mas "eles" não diziam nada até ao momento da partida. Ou melhor, diziam. Para a guerra, íamos nós. Ainda cheguei a pensar ser segredo militar bem guardado, para manter o inimigo na ignorância tanto quanto fosse possível. Só muito mais tarde compreenderia, em toda a sua extensão, a rede do destino que me apanhara. Para punir, ademais injustamente, um homem, os senhores da guerra alteravam o destino de seiscentos. Como cordeiros, todos eles se disponibilizavam para servir de lobos.

(continua)
Magalhães Pinto

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