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19.11.07

CRÓNICA DA SEMANA

Passo por ali, todos os dias, por dever de ofício. Se pudesse, não passava. Mas fica a caminho do meu trabalho vespertino. E não passava porque é doloroso ver aquele espectáculo. Rota, suja, andrajosa, sem dar sinais de vida, a anémona que, junto ao mar, separa Matosinhos do Porto, está completamente defunta. Os fundilhos roçam na erva quando o vento é mais forte. Não sei se o meu Leitor já viu uma anémona de verdade, daquelas que, por vezes, morrem nas nossas praias. É um espectáculo enojante. Uma anémona morta, esparramada na praia, não é mais do que um dejecto. Pois esta, a esculpida, a erigida, a defunta, é, presentemente, um espectáculo ainda mais nojento. Com a agravante de olharmos para “aquilo” que pretendia ser uma escultura revolucionária e saber que custou quase UM MILHÃO DE EUROS. Uma quantia que dava bem para construir aí umas vinte e cinco casas para gente mal alojada.
Não é caso único em Portugal, infelizmente. Há autarcas provincianos, sem cultura cívica, que procuram dar nas vistas, em lugar de tentarem ser efectivamente úteis aos seus concidadãos. E não só por palavras. Gastam mundos e fundos para poderem dizer, depois, que deixaram obra. Em alguns casos, no meio das muitas asneiras que cometem, até fica alguma coisa de útil. Mas é uma ilusão, na qual muitos dos meus concidadãos se deixam levar. Pensar só no que está feito. Não é isso que conta num administrador político. O que verdadeiramente deve contar não é o que ele faz, mas sim o que podia fazer com os meios que tem ao seu dispor, e não faz. Isso sim. Essa é que é a boa medida da capacidade de um administrador político. O desperdício que provoca. Como no caso da anémona da Praça S. Salvador em Matosinhos. Uma bacoquice que ficou bem cara aos matosinhense. Administradores assim deviam ser banidos da política. Deviam ser esconjurados à primeira asneira. Infelizmente, ainda não temos modo de sancionar quem assim age. Um dia teremos. Mas podemos iniciar o fazer as contas rejeitando que se sentem na cadeira do Poder.

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Excerto da crónica A DEFUNTA - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 19/11/2007

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