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24.11.07

OS HERÓIS E O MEDO - 95º. fascículo

(continuação)

Sentado na sua cama, Mário não participava naquele pandemónio. A ele assistia como se lhe fosse estranho. Cansados daquela guerra de travesseiros, alguém alvitrou uma ida aos copos, a Abrantes. Logo se formaram dois grupos, de cinco, tantos quantos os automóveis do Justiniano e do Amaral levavam. E não faltou quem dissesse saber onde se comiam umas iscas de fígado sensacionais. Aos copos! Aos copos! As iscas logo se vê! Não se preocuparam muito se o seu aspecto satisfazia o regulamento. Encontrar a polícia militar era sempre um risco. Mas o perigo de ser engavetado e passar uns dias de detenção não parecia afligir ninguém. Um dos parceiros da excursão a Abrantes era um sargento vindo da Índia. Já deveria ter passado à disponibilidade. Mas pedira para continuar na tropa, com passagem ao Quadro Permanente. Depois da aventura do Oriente, achava-se com pouca vontade de voltar à vida civil. Mas o seu pedido, com longos meses, ainda não tinha sido deferido. Compreensível a perplexidade. Num exército em guerra, quem se rendera ao inimigo não era precisamente um factor moralizador. Aguardava, em Santa Margarida, a resolução do seu caso. E havia uma razão simples para ter sido convidado para a libação. Tinha uma viola e podia acompanhar o Manel nuns fadecos para abrilhantar a ocasião.

(continua)
Magalhães Pinto

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