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22.11.07

OS HERÓIS E O MEDO - 93º, fascículo

(continuação)

Dispersados, foi o fim do mundo. A tensão procurava alívio nos excessos mais infantis. Os postos deixaram de ter qualquer significado entre os não profissionais. Soldados, sargentos milicianos e oficiais milicianos eram todos parte da mesma tropa enlouquecida, infantil. Os militares começaram por se envolver numa demorada batalha de almofadas. Suaves projécteis se comparados aos que iriam encontrar daí a pouco. A breve trecho havia palha espalhada por todo o lado. Saltavam para cima das camas e ao grito de "Aí vai granada!", faziam dos travesseiros armas de arremesso domésticas, tentando atingir os companheiros. Deitar! Rastejar até mim! As vozes de comando da aplicação militar enchiam os dormitórios. O Manel cantava a plenos pulmões, fazendo duma vassoura uma imaginada viola, enquanto ensaiava os passos duma não menos imaginada valsa. Os teus olhos, negros, negros, são gentios, são gentios da Guiné!... Do quarto ao lado, o sargento Justiniano apareceu com a toalha enrolada à volta dos quadris. Rebolava as ancas enquanto segurava duas enormes maçãs no lugar dos seios. Ó alferes, apalpa aqui a ver se são duros. A disciplina desaparecera.

(continua)
Magalhães Pinto

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