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23.11.07

OS HERÓIS E O MEDO - 94º. fascículo

(continuação)

Como vos invejo, camaradas meus! Como vos invejo essa capacidade de brincar com o destino! Mesmo que essa loucura não seja senão um inapercebido grito de libertação. Às malvas os regulamentos. Às malvas a disciplina. Às malvas a tropa. A partir de agora, somos apenas peças duma gigantesca máquina de matar. Todas são, por igual, necessárias. Que importa se uma é estilhaço e outra detonador. Uma não funciona sem a outra. Como vos invejo, camaradas meus, por essa capacidade para esquecer aquilo que vos espera. Cada um de vós é um coração de ouro. Cada um de vós seria capaz de ser um bom samaritano. As apertadas horas de treino reduziram-vos a isto. Crianças grandes a fazer o que não gostam, a fazer o que lhes mandam. E, mal a oportunidade surge, sois capazes das maiores diabruras. Inofensivas diabruras! Quantas vezes sereis forçados a lançar granadas como agora lançais travesseiros! Só que os gritos de dor tomarão, então, o lugar das gargalhadas nervosas de agora . Quanta heroicidade é necessária para brincar como crianças num dos momentos mais graves da vossa existência? Abençoado seja quem assim consegue guardar tanta inocência, no meio da maldade humana.

(continua)

Magalhães Pinto

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