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21.11.07

OS HERÓIS E O MEDO - 92º. fascículo

(continua)

Como quase sempre, Mário navegava nas ondas dos seus pensamentos enquanto o comandante continuava. Não prestou atenção à exortação de Soveral, lembrando-lhes haver orelhas do inimigo por todo o lado. Deviam, portanto guardar, tanto quanto possível, segredo do acabado de saber. Uma recomendação resultante de mais uma contradição da situação. Claro que era recomendável não andar a anunciar o destino do Batalhão. Nunca se sabia onde estavam as orelhas a ouvi-lo. E havia canais a fazer chegar aos terroristas todas as notícias com interesse para a sua estratégia. Uma das preocupações essenciais da polícia política era controlar os comunistas, a quem se atribuía a passagem da maior parte dessas notícias. Mas, por mais necessário que fosse o segredo, os governantes não podiam fazer partir os militares sem a família saber para onde iam. Quebrando, assim, o segredo necessário. A moral da família a sobrepor-se à segurança. Entendia-se o porquê das prioridades. Entre as famílias de todos levemente mais felizes e duas ou três muito infelizes, a escolha não era difícil. Mário reteve, sobretudo, a informação de que, nesse fim de semana, iriam, com passagens pagas pela Fazenda, para os dez dias de férias da ordem. E, mal regressados, embarcariam para a Guiné.

(continua)
Magalhães Pinto

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