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26.11.07

OS HERÓIS E O MEDO - 97º. fascículo

(continuação)

No regresso, não puderam utilizar a ponte de Abrantes. Estava fechada. Encerrava da meia noite às seis da manhã, para obras de manutenção. Foi necessário fazer uma grande volta, pela Chamusca, Golegã e Entroncamento. Numa viagem acidentada. Dos dez, apenas Mário não estava embriagado. Durante a viagem, pararam uma boa meia dúzia de vezes para o vómito tradicional. As sentinelas do Campo Militar fecharam os olhos à hora tardia de regresso quando souberam tratar-se de homens do batalhão destinado à Guiné, a embarcar daí por duas semanas. Estavam habituados àquelas cenas por parte dos militares em véspera de partida.

A noite ainda não ficaria por ali. Espíritos toldados pelo álcool ingerido, continuaram as loucuras. Sóbrio, Mário acudia aos fogos. Não apenas literalmente, já que, deitado na cama, o Álvaro teimava em acender o cigarro cobrindo-se depois com o lençol. De vez em quando, sentava-se na cama de um salto e começava a citar Pitigrilli, cuja cunhada Remolina andava feita com o sobrinho. Do outro lado, Manel entaramelava a canção cantada dezenas de vezes naquela noite. Os teus olhos... negros, negros... da Guiné... Porra!... Tenho que ir às gajas este fim de semana... Adormeceram por fim, já as primeiras cores da manhã aliviavam o negro da noite. O sono encarregava-se de colorir, nem que fosse só até de manhã, o luto das almas daquela juventude condenada a deixar tudo quanto era seu para ir à guerra.

(continua)
Magalhães Pinto

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