Pesquisar neste blogue

26.11.07

CRÓNICA DA SEMANA

Já este ano, o senhor Ministro da Saúde anunciou aos Portugueses que o esforço governamental de reduzir o défice público tinha tido, em 2006, pleno sucesso na sua área. Pretendia ele, com isso, falar do acerto das políticas governamentais e, designadamente, justificar que os cortes verificados no domínio da Saúde, com encerramento de muitas urgências, fecho das maternidades e redução das comparticipações nos medicamentos, haviam sido compensadores para os Portugueses. Os quais, por força dessa política, teriam, segundo ele, gasto menos dinheiro e estavam a dever menos.

Pois bem. Veio agora o Tribunal de Contas dizer que essas informações só foram possíveis porque o Governo tinha alterado o modo de contabilização das coisas na área da Saúde, pelo menos. E que o que realmente aconteceu, em 2006, foi que se gastou e se ficou a dever mais dinheiro do que no ano anterior. O Tribunal de Contas é um departamento do Estado, independente do Governo, a quem cumpre fiscalizar as contas do Estado apresentadas pelo dito Governo e dizer aos Portugueses se essas contas estão bem ou se estão mal. O Tribunal de Contas é presidido, actualmente, pelo Dr. Guilherme de Oliveira Martins, um distinto socialista que, além de deputado pelo PS, foi por três vezes Ministro de Governos do Engº. António Guterres.

Em primeiro lugar, louve-se a isenção do Presidente do Tribunal de Contas. O qual consegue, deste modo, manter-se à margem dos interesses partidários num cargo de tão alta responsabilidade e tão necessário à democracia. Mas o que mais devemos reter do que venho contando é a actuação do Ministro da Saúde, em particular, e do Governo que nos governa, em geral. Este foi só mais um caso em que o Governo altera o modo de contabilizar as coisas, de modo a poder intoxicar-nos com a sua propaganda. E o que mais preocupa com este indicador é que temos todos vindo a fazer sacrifícios enormes, ao que parece para equilibrar as contas públicas, mas é legítimo ter a dúvida sobre se realmente as coisas estão a melhorar nesse domínio. Com um Governo que nos engana desta maneira, nunca se sabe. Tudo o que se sabe é que é bem capaz de chegarmos aí adiante, o Primeiro-Ministro ir-se embora e o que vier atrás dele nos vir dizer que as contas públicas, afinal, estão num estado lastimoso.

Excerto da crónica A VERDADE E A MENTIRA - Magalhães Pinto - "MATOSINHOS HOJE" - 26/11/2007

Sem comentários: