Um ano pela frente. Nascido, como todos, sob o signo da esperança. E que, como todos, quando chegar ao fim, terá deixado pelo caminho acontecimentos bons e acontecimentos maus. Alegres uns, tristes outros. Sem qualquer importância, a maior parte deles.
O ano nasce sob o signo de dificuldades económicas acrescidas. A maior parte dos bens essenciais conhecerá agravamentos de preço maiores do que a revisão de salários que, necessariamente, vai ter lugar. Os Portuguesers serão chamados a administrar mais cuidadosamente os seus rendimentos, particularmente os que apenas vivem dos rendimentos do trabalho. E é na verificação desse facto que fica um nó na garganta. Durante anos e anos, e beneficiando do muito dinheiro que veio da Europa para Portugal, andámos a viver como se o futuro fosse sempre igual ao presente. Por várias vezes, aqui e noutros lugares onde falei, chamei a atenção para o facto de andarmos a esbanjar o que devia servir para o nosso desenvolvimento. E como eu, mais uns tantos, não muitos. O resultado é que, agora, esbanjamento feito, não podemos voltar atrás. Chegou a factura dos erros que cometemos. Vamos ter que pagá-la.
Já não seria mau se, das dificuldades que necessariamente vamos atravessar, ficasse uma lição. A de que não podemos encolher os ombros e virar a cara ao que se passa à nossa volta. Particularmente, temos que estar muito atentos ao que fazem aqueles a quem entregamos o encargo de administrar o que é de todos. Refiro-me aios políticos, claro. Os quais, na sua maior parte, são obviamente sérios. Mas podem não ser competentes. Ou podem gastar hoje o que têm e o que não têm, hipotecando o futuro. Só para termos um exemplo, há por aí alguns administradores de município que venderam receitas futuras. Isto é, realizando hoje, mediante o pagamento de um desconto, aquilo que está previsto receberem em anos que aí vêm. Isto é, obviamente, uma má medida administrativa. Porque, gasto agora esse dinheiro, ele vai faltar no futuro. E se faltar no futuro o dinheiro que ao futuro pertence, maiores serão então as dificuldades.
Devemos, pois, estar atentos. Participar na vida colectiva, se não de outro modo, com o nosso juízo crítico e com a expressão da nossa opinião. Não podemos nunca esquecer, para usar uma imagem trivial, que estamos todos no mesmo barco. É do interesse de todos que o barco não vá ao fundo. Se fosse, o resultado seria o afogamento de todos. Só um ou outro mais feliz escaparia.
Magalhães Pinto - MATOSINHOS HOJE - 9/1/2007
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